O que nos move

No blog do Alberto Murray Neto (aqui), foi postado um texto em que ele expõe uma petição protocolada na Delegacia de Repressão a Crimes na Internet. O Co-Rio entrou com uma ação contra o blogueiro, que é neto de um ex-presidente do COB, Sylvio de Magalhães Padilha. “Acusam-me de escrever a membros do Comitê Internacional Olímpico (”CIO”) promovendo a anti-candidatura”, diz. Murray é membro do COB e grande conhecedor do movimento olímpico (estudou o assunto, na Grécia) e investido tudo na derrocada de Nuzman, o atual presidente.

“De fato escrevo aos membros do CIO e não escondo isso de ninguém. Publico no Blog que escrevo a eles todos. Ocorre que não minto quando mando minhas cartas. O que eu remeto ao colégio eleitoral são apenas recortes de jornais e revistas, mapas do google, dvd’s de programas televisivos, decisões do TCU, para que eles próprios tirem as suas conclusões. Se a trupe olímpica nacional acha que vou parar de expressar a minha opinião com liberdade, está rendondamente enganada.”

Daí, escrevi um comentário questionando os interesses de Murray e fui bombardeado. Vejam a crítica a minha ponderação e as minhas declarações que seguem ao grito de ACORDA!!!! (em inglês) que recebi.

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Comentário de um leitor do blog sobre minhas declarações

acorda renatoo!!!
vc entende de esporte??
…vai ver como o chamando legado do pan, que politico fala tanto esta sendo usado??
vai tentar falar com a federacao do seu esporte e
ver que tipo de apoio eles te dao….
…assiste brasil olimpico uma candidatura passada a limpo; ve se isso desperta em vc um pouco de etica e profissionalismo; o que ta faltando em todo esse setor apoiado inclusive pelos deputados e senadores!!!!!
waaake uuup!!!

 noblat

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MINHA RESPOSTA

Não se preocupe comigo.
Tenho acesso à informação, infelizmente. Leio esse blog [o do Murray] e, sim, já assiti ao tal documentário da ESPN. Sei do legado do Pan e percebo os interesses políticos, tão escondidos quanto não publicados. Maior ou menor grau, há corrupção no esporte, como um todo, mais que em qualquer outra área, talvez porque seja considerada uma vertente de segunda linha. Neste país, esporte não é levado a sério. No passado, foi apontado como bode expiatório para o atraso político dos tempos da ditadura. No fundo, ainda é usado de forma política.

Talvez por isso, a corrupção, no meio, é latente. Mais reveladora, no Brasil, com certeza, mas sabemos que os outros países não estão imunes ao toma-lá-dá-cá. Salt Lake City foi um escândalo. O legado de Montreal é das piores vergonhas do movimento olímpico. Mesmo Barcelona mantém, a duras penas, o seu complexo olímpico que vi de perto e sei que passará por maus bocados, com a saída do Espanhol (time da primeira divisão da Liga Espanhola), que constrói sua nova arena, nesse momento, e deixará de usar o belíssimo Estádio Olímpico (que alugava, até então).

Mas Barcelona não esconde o orgulho de ter erguido sua face turística com o advento olímpico. Na ponta do lápis (e muitos já fizeram essa conta) o resultado só fez motivar toda a corrida que se seguiu para se sediar uma Olimpíada. A cidade espanhola, que tinha outra cara, antes da missão bem sucedida de Saramanch, se divide em antes e depois de 92 (sobre legado e as tais contas de Barcelona, leia mais em “Leitura Econômica dos Jogos Olímpicos: Financiamento, Organização e Resultados”).

Cheguei a dizer, acima, que este blog tem a contribuição de denunciar e o faz, parece-me, com a eficiência de alguém contratado para auditar. Daí, meus questionamentos sobre as motivações do advogado Alberto Murray, filho do ex-presidente do COB [na verdade, ele é neto do Sylvio de Magalhães Padilha e não filho]. Parece-me mais uma disputa pela cadeira hoje ocupada pelo Nuzman.

Então, fico pensando se há isenção suficiente para tratar de assunto que divide opiniões.

Por aqui, todos têm vocação para dizer que o país não pode receber os jogos, que o Rio não está preparado. “Tem tiroteio na Linha Vermelha todos os dias”, dizem. “Temos outras preocupações”, repetem. Daí, vem o presidente do COI, Jacques Rogge, e diz, mais de uma vez, que todas AS QUATRO CANDIDATAS ESTÃO APTAS a receber os Jogos e fica a sensação de que o olhar de fora, do Rogge, ou é enganado ou está sendo manipulado pela “corja” do Co-Rio.

É o establishment, afinal de contas. Se o Rio for escolhido, será porque a cúpula do esporte mundial o quer, percebendo que pode ser uma grande oportunidade de faturamento e ampliação de poder.

Agora o que fica nebuloso é o fato de que o sentimento de muitos brasileiros (alguns que circulam por aqui) é o de que o carioca NÃO PODE TER ESSA CHANCE. NÃO MERECEM, PELA CONDIÇÃO DE BRASILEIROS.

E fica outra pergunta: Algum dia, o Rio terá capacidade de sediar os Jogos? Daí, dirão que sim, após uma completa reforma política.

E vem a história do ovo e da galinha. O que vem primeiro, a demonstração de capacidade ou o comodismo hereditário? Quantas foram as histórias de queda de dirigentes, a cada ciclo olímpico? Se houver suspeita, que seja fiscalizado e que se punam todos os culpados. Teremos os olhos internacionais. Terá que ser feito e dentro do prazo. São exigências de fortes grupos econômicos.

Quanto ao documentário da ESPN, tão elucidativo, peca apenas pela desventura de não mostrar os dois lados. O Rio foi crítico (como tinha que ser, até vaiando o Lula), mas lotou o Maracanã, na abertura e encerramento do Pan, confirmando um certo orgulho desconfiado (como tinha que ser). A ESPN demonstra fôlego jornalístico (sem precedentes), com interesses de uma empresa que busca eventos para seu fraco catálogo, no esporte nacional. Queria ver a mesma capacidade investigativa junto aos desmandos da CBF, com corrupção muito mais latente. Mas, sabemos, com o retorno da Copa do Brasil, ao canal, nada será dito, em séculos sobre Ricardo Teixeira. Daí, todos vendem a alma. O COB não tinha moeda de troca, afinal.

E, fecho, demonstrando minha motivação. Sou jornalista, com passagens pela edição de cadernos de esportes de um jornal do interior. Gosto até mais de eventos esportivos, em si. E sei que terei um nicho de trabalho, com certeza, sem a necessidade de derrubar ninguém do trono. Muitos brasileiros também o terão. Muitos. COMO ACONTECE EM TODOS OS PAÍSES QUE JÁ FORAM SEDES DOS JOGOS. HÁ UM MAIOR INVESTIMENTO NOS ATLETAS, COM CONSEQUENTE EVOLUÇÃO DO GRUPO, NO QUADRO DE MEDALHAS.

Enfim…
Só postei uma questão que me parece um vício de gestão no esporte brasileiro. Murray ataca Nuzman e vê, na escolha do Rio para sede de 2016, o pior resultado possível para suas intenções, ainda incertas. Daí, ele usa do artifício de enviar cartas para os votantes do COI para impedir isso a qualquer custo (imaginando que essa mala direta tenha um custo muito alto). Por quê? Se a candidatura do Rio realmente é a pior, ele não precisaria se preocupar.

O que nos preocupa, afinal?

Renato Pena

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