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Maraca é ícone de 50 anos atrás

Estágio atual da construção do Estádio Olímpico de Londres. Ingleses querem a instalação de meio bilhão de libras para a possível Copa de 2018

Eduardo Arruda revelou ontem, na Folha (aqui, para assinantes), que o “único postulante a receber a final da Copa-2014, o Maracanã, ainda não tem um projeto básico de reforma para o torneio”.

“Em janeiro deste ano, a capital fluminense havia mostrado um projeto conceitual feito pelo escritório de arquitetura Castro Mello. Esse documento, na verdade um estudo preliminar das obras, foi reprovado.”

“Os organizadores da Copa no Brasil estipularam outros dois prazos para a entrega e melhora das propostas das sedes.”

“No primeiro, em julho, nenhuma proposta do Rio foi enviada. No segundo, em setembro, de novo a cidade passou em branco.”

A Castro Mello é o mesmo escritório que realizou o projeto do Estádio Nacional, em Brasília, talvez, o mais bonito dos projetos da Copa. Mas o desenho do Maracanã realmente é inconcluso. Conceitual, como foi dito, serviu à campanha do Rio 2016, mas para uma Olimpíada, o mundo espera muito, muito mais.

Com a marquise tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, pode-se fazer pouco pelo Maracanã, para além da proposta do escritório brasileiro. Serão gastos rios de dinheiro (fala-se agora em R$ 530 milhões, sem contar a reforma do Pan, que custou R$ 250 milhões) e não haverá solução arquitetônica que faça rejuvenescer ou modernizar o velho estádio.

A solução que se deu para o londrino Wembley (que rivaliza em importância histórica com o próprio Maracanã), foi a demolição, em 2003, para que fosse erguido um dos mais modernos estádios do mundo, ao custo de 1 bilhão de euros. Ainda assim, o palco lendário não está nos planos de Londres 2012, ao menos no que diz respeito a ser a principal arena, com a construção de novo estádio – com gasto público de 537 milhões de libras.

É reforma
Mas os mistérios e confusões em torno da remodelação do Maracanã só aumentam,com a proximidade do processo licitatório, previsto para dezembro.

Em entrevista ao Portal Copa 2014, a secretária estadual de Turismo, Esporte e Lazer do Rio de Janeiro e também responsável pelo Comitê Local da Copa no estado, Márcia Lins, e taciturna:

“O que faz da preparação do Maracanã importante não é o projeto de arquitetura. O estádio é um bem tombado, ou seja, deve-se preservar sua fachada. O que faremos é a modernização do estádio por dentro, mantendo suas caracteríticas por fora. O objetivo é apenas corrigir algumas deficiências que hoje não estão de acordo com o caderno de encargos da Fifa. O projeto arquitetônico pouco importa no momento. Estamos preocupados em solucionar problemas como saída de emergência, espaço para a mídia, vestiários, entre outros, para adequá-los às exigências da Fifa.”

 A secretária informa que as obras da “reforma” comecarão em 1º de março, como quer a Fifa e que, neste momento, o governo do Estado trabalha no projeto executivo, a ser licitado.

Proposta da Artetec, premiada e rejeitada; arquitetura virou preocupação menor

O arquiteto Antônio Carlos Saraiva, da Artetec, levou ao governo do Rio uma proposta de reurbanização do entorno do Maracanã, em 2007. O projeto, aprimorado no ano passado, chegou a ganhar prêmio internacional, mas não sairá da gaveta, apesar de manter os equipamentos esportivos que circundam o estádio – Parque Aquático Júlio Delamare e do Estádio de Atletismo Célio do Barros, ameaçados pelos projetos mais recentes de revitalização. É que a Fifa cobra espaço para caminhões e tendas de publicidade, o que tem pertubado também os gestores do Morumbi.

Ano passado, a Castro Mello apresentou sua proposta para a reforma, aceito pela Fifa e incorporado ao projeto do Rio 2016. Somente a cobertura do estádio, ainda de acordo com a secretária Márcia Lins, custará R$ 200 milhões.

De resto, muitos desenhos depois e extensa guerra de escritórios de arquitetura, o imblóguio do Maracanã deve persistir por muito mais tempo. É absolutamente desconfiável que o governo do Estado projete início de obras para março, diante de tantos viés e sem que seja conhecido o projeto executivo e iniciado os prazos licitatórios.

Mas a polêmica virá mesmo depois de todas essas etapas transpôstas. Em Londres, quando se confirmou o novo desenho do Estádio Olímpico, em 2007, o nicho de arquitetos britânicos (aqui, um texto, em inglês, com as ressalvas mais conhecidas) se dividiu.

Projeto atual para Londres dividiu opiniões

Ainda assim é difícil pensar em menos de meio bilhão de reais para a construção de um ícone, como bem lembrou uma arquiteta inglesa. O Estádio de Pequim criou um problemão para os próximos Jogos. Mas não precisamos ir tão longe, no sonho olímpico.

 A Allianz Arena, em Munique, na Alemanha, é um bom exemplo desde sempre, notabilizado pelo escritório Herzog & de Meuron, que também desenhou o Ninho de Pássaro. Custou 340 milhões de euros, sendo inaugurado em 2005 para a Copa do ano seguinte. Indiscutível, virou a marca daquele Mundial, orgulho  e exemplo de boa gestão em construção de estádio. E é essa a questão: o Maraca, como está, continuará como eterno ícone da Copa 50.