Jogos trainspotting

 

Eis o time de artistas e produtores encarregados pela abertura de 2012

É um tema que gostamos. Porque é o mais visto e, por vezes, recheado de antologias: as cerimônias de abertura dos Jogos Olímpicos.

Hoje, o Comitê Organizador de Londres anunciou que o cineasta londrino Danny Boyle, marcado por “Trainspotting”, oscarizado por “Quem Quer ser Um Milionário”, será o diretor artístico das cerimônias dos Jogos de 2012. Ele terá a colaboração de Stephen Daldry, também inglês, grifado pela Reuters, erroneamente, como produtor, sendo um notório teatrólogo, com aventuras bem sucedidas no cinema, vide “Billy Elliot”.

Boyle deu coletiva hoje. Falou que não veremos a grandiosidade de Pequim e que irá imprimir personalidade a um espetáculo mais barato – ao custo de 40 milhões de libras.

No time de Boyle, além de Daldry, temos ainda:

  • Mark Fisher, design de grandes estrutura de entretenimento. É dele, o palco mirabolante da nova turnê do U2 e a concepção de estrutura de Pequim 2008. Não há ninguém melhor, no mundo, pra isso.
  • Hamish Hamilton, premiado diretor de TV. É britânico, mas tem muitos shows americanos no currículo, como o Oscar 2010 ou mesmo o desfile midiático da Victoria Secret.
  • Catherine Ugwu produziu os Jogos Asiáticos, em Doha – 2006.
  • Mas discordo da Reuters, quando diz que Pequim “estabeleceu um novo parâmetro para esses eventos, em geral, considerados tediosos e mal feitos”.

    Porque percebo que essas cerimônias deixaram de ser ordem unida, a partir de 1992, com os Jogos de Albertville, na França. Havia uma nítida mudança de conceito, com domínio do estilo Cirque du Soleil, escola “surrealista”, de grandes eventos, como bem definiu David Atkins, australiano que tem uma coleção de produções desse calibre, no currículo – que inclui Sidney 2000.

    Como também é possível dizer, com a mesma convicção, que, nos Jogos de Verão, não foi de Pequim a grande virada. E até acho que tal façanha pode ser repetida porque Londres, verdadeiramente, vislumbra algo parecido, principalmente com a contratação do megalomaníaco Fisher. Não vejo algo pequeno em 2012, só de lembrar da estrutura de “360°”, a tour do U2. Os ingleses também optaram por um grande cineasta, no comando, muito por conta do casamento com a TV e no resultado chinês. Na China, Zhang Yimou, do pirotécnico “Herói”, foi o dono da concepção. Mas até Spielberg foi convidado para colaborar com o resultado final. Declinou, meses antes, em solidariedade política ao Tibet.

    Zhang Yimou, portanto, é parte dessa história.

    Mas a concepção artística que mudou essas cerimônias veio dos Jogos anteriores, em Atenas – 2004, talvez a mais inovadora de todas, chamada de “triunfo”, pelo “Time”.

    A começar pelo Complexo arquitetônico de Calatrava, passando pela primeira transmissão (para os EUA) em alta definição, resultando no melhor casamento, agradando TV e estádio.

    Então, conhecemos a obra do grego Dimitris Papaioannou, o mais profícuo artista daquele país. O coreógrafo e artista visual, como ele se define, em seu site, trabalhou água, retroprojeção, desfiles de paradas de personagens esculpidos (como a Medéia do lado.

    Atenas 2004 fez diferente em tudo, limpou as coreografias que não aparecem na TV e nem mesmo o espectador do estádio vê. Tirou a ordem unida característica desses eventos.

    O conceito de Dimitris era novo no vestir e no enscenar, algo difícil para um evento de massa. E se vê, abaixo, que o resultado do estádio do Calatrava é muito próximo do obtido com sua peça, “Medéia”.

    Então vem a pergunta: Quem sucederá Dimitris, Boyle e Yimou, na direção dessa grande festa, em 2016.

    Deborah Colker, que já fez o Pan do Rio (no melhor momento, diga-se). Deveriam convidá-la, ao menos, para a cerimônia de encerramento de Londres, quando o Rio dá as caras.

    Bia Lessa, diretora de teatro. Já vi coisas genais dessa mulher, como num Prêmio do Cinema Brasileiro de 2000.

    Paulo Pederneiras, do Grupo Corpo.

    Gabriel Vilela, diretor de teatro (o melhor do Brasil, talvez).

    Fernando Meirelles.

    Criatividade? Temos. Mas acredito que os produtores serão gringos.

    O primeiro teaser de “Rio”, filme do brasileiro Carlos Saldanha, foi lançado ontem, numa coincidência com o marketing de Londres 2012 – que apresentou seus mascotes um dia antes, e com o fato de eu ter apontado na direção desse artista como o mais propenso a desenhar a cara dos Jogos de 2016.

    As araras azuis percorrem o céu carioca numa asa delta. O site, também lançado nesta semana, mas só com página de abertura, tem bossa nova – “Mas que Nada”, de Jorge Ben Jor, cantada em português, com sotaque. E o teaser você ser visto também aqui.

    30 anos de cadeia

    Voltei. Sem alarde e com as desculpas necessárias. Muito trabalho.

    Continuo na luta, mas tenho que encontrar tempo para falar dos Jogos, meu grande aprendizado, em jornalismo, nesses tempos.

    Volto, no momento em que o presidente Lula assina os protocolos e medida provisória, com o arcabouço de como será a gestão pública da Olimpíada de 2016.

    Com o protocolo de intenções, ele cria, com o governador Cabral e o prefeito Paes a Autoridade Pública Olímpica (APO), um consórcio público interfederativo, formado pela União, governo do Estado e a Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.

    O presidente também assinou a Medida Provisória que cria a Empresa Brasileira de Legado Esportivo S.A – Brasil 2016, em regime jurídico próprio das empresas privadas, vinculada ao Ministério do Esporte, com sede na cidade do Rio de Janeiro.

    A APO, a ser presidido pelo Orlando Silva, com sabatina do Senado e tudo mais, e garantia de mandato até 2018, terá suporte administrativo da tal Empresa Brasil 2016.

    A APO é cheia de conselhos (com representação da sociedade) e terá que abrir as nomeações com um perfil técnico, para não se misturar ao mundo da cartolagem amadora que impera no futebol.

    Também não pode ser um cabide de empregos, risco inerente a sua legislação que terá sua implantação gradual, com corpo técnico contratado.

    A letra da lei ainda não está disponível, mas os releases do Ministério do Esporte são didáticos sobre a APO e a nova Empresa.

    Bom saber que a legislação brasileira seguirá os modelos de Jogos anteriores, Londres notadamente. O organismo britânico foi implantado em 2006 e o Brasil seguiu o mesmo cronograma – criando a lei seis anos antes do evento.

    O presidente Lula justificou as medidas, com foco na transparência. Essa APO será amplamente responsabilizada, segundo o governo.

    “Porque, depois, o cidadão que levar todos os louros da glória de realizar a Olimpíada, vai ter que prestar contas. E, na hora que prestar contas, somente quando fechar o balanço da Olimpíada, que ele tiver sido condenado a 30 anos de cadeia, é que ele, então, vai poder distituir o mandato,” no humor negro de Lula.

    Aqui, em inglês, a legislação do organismo inglês, a ODA – Olympic Delivery Authority.

    Maraca é ícone de 50 anos atrás

    Estágio atual da construção do Estádio Olímpico de Londres. Ingleses querem a instalação de meio bilhão de libras para a possível Copa de 2018

    Eduardo Arruda revelou ontem, na Folha (aqui, para assinantes), que o “único postulante a receber a final da Copa-2014, o Maracanã, ainda não tem um projeto básico de reforma para o torneio”.

    “Em janeiro deste ano, a capital fluminense havia mostrado um projeto conceitual feito pelo escritório de arquitetura Castro Mello. Esse documento, na verdade um estudo preliminar das obras, foi reprovado.”

    “Os organizadores da Copa no Brasil estipularam outros dois prazos para a entrega e melhora das propostas das sedes.”

    “No primeiro, em julho, nenhuma proposta do Rio foi enviada. No segundo, em setembro, de novo a cidade passou em branco.”

    A Castro Mello é o mesmo escritório que realizou o projeto do Estádio Nacional, em Brasília, talvez, o mais bonito dos projetos da Copa. Mas o desenho do Maracanã realmente é inconcluso. Conceitual, como foi dito, serviu à campanha do Rio 2016, mas para uma Olimpíada, o mundo espera muito, muito mais.

    Com a marquise tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, pode-se fazer pouco pelo Maracanã, para além da proposta do escritório brasileiro. Serão gastos rios de dinheiro (fala-se agora em R$ 530 milhões, sem contar a reforma do Pan, que custou R$ 250 milhões) e não haverá solução arquitetônica que faça rejuvenescer ou modernizar o velho estádio.

    A solução que se deu para o londrino Wembley (que rivaliza em importância histórica com o próprio Maracanã), foi a demolição, em 2003, para que fosse erguido um dos mais modernos estádios do mundo, ao custo de 1 bilhão de euros. Ainda assim, o palco lendário não está nos planos de Londres 2012, ao menos no que diz respeito a ser a principal arena, com a construção de novo estádio – com gasto público de 537 milhões de libras.

    É reforma
    Mas os mistérios e confusões em torno da remodelação do Maracanã só aumentam,com a proximidade do processo licitatório, previsto para dezembro.

    Em entrevista ao Portal Copa 2014, a secretária estadual de Turismo, Esporte e Lazer do Rio de Janeiro e também responsável pelo Comitê Local da Copa no estado, Márcia Lins, e taciturna:

    “O que faz da preparação do Maracanã importante não é o projeto de arquitetura. O estádio é um bem tombado, ou seja, deve-se preservar sua fachada. O que faremos é a modernização do estádio por dentro, mantendo suas caracteríticas por fora. O objetivo é apenas corrigir algumas deficiências que hoje não estão de acordo com o caderno de encargos da Fifa. O projeto arquitetônico pouco importa no momento. Estamos preocupados em solucionar problemas como saída de emergência, espaço para a mídia, vestiários, entre outros, para adequá-los às exigências da Fifa.”

     A secretária informa que as obras da “reforma” comecarão em 1º de março, como quer a Fifa e que, neste momento, o governo do Estado trabalha no projeto executivo, a ser licitado.

    Proposta da Artetec, premiada e rejeitada; arquitetura virou preocupação menor

    O arquiteto Antônio Carlos Saraiva, da Artetec, levou ao governo do Rio uma proposta de reurbanização do entorno do Maracanã, em 2007. O projeto, aprimorado no ano passado, chegou a ganhar prêmio internacional, mas não sairá da gaveta, apesar de manter os equipamentos esportivos que circundam o estádio – Parque Aquático Júlio Delamare e do Estádio de Atletismo Célio do Barros, ameaçados pelos projetos mais recentes de revitalização. É que a Fifa cobra espaço para caminhões e tendas de publicidade, o que tem pertubado também os gestores do Morumbi.

    Ano passado, a Castro Mello apresentou sua proposta para a reforma, aceito pela Fifa e incorporado ao projeto do Rio 2016. Somente a cobertura do estádio, ainda de acordo com a secretária Márcia Lins, custará R$ 200 milhões.

    De resto, muitos desenhos depois e extensa guerra de escritórios de arquitetura, o imblóguio do Maracanã deve persistir por muito mais tempo. É absolutamente desconfiável que o governo do Estado projete início de obras para março, diante de tantos viés e sem que seja conhecido o projeto executivo e iniciado os prazos licitatórios.

    Mas a polêmica virá mesmo depois de todas essas etapas transpôstas. Em Londres, quando se confirmou o novo desenho do Estádio Olímpico, em 2007, o nicho de arquitetos britânicos (aqui, um texto, em inglês, com as ressalvas mais conhecidas) se dividiu.

    Projeto atual para Londres dividiu opiniões

    Ainda assim é difícil pensar em menos de meio bilhão de reais para a construção de um ícone, como bem lembrou uma arquiteta inglesa. O Estádio de Pequim criou um problemão para os próximos Jogos. Mas não precisamos ir tão longe, no sonho olímpico.

     A Allianz Arena, em Munique, na Alemanha, é um bom exemplo desde sempre, notabilizado pelo escritório Herzog & de Meuron, que também desenhou o Ninho de Pássaro. Custou 340 milhões de euros, sendo inaugurado em 2005 para a Copa do ano seguinte. Indiscutível, virou a marca daquele Mundial, orgulho  e exemplo de boa gestão em construção de estádio. E é essa a questão: o Maraca, como está, continuará como eterno ícone da Copa 50.

    ESPN mais latina

    Hoje, o COI divulgou nota confirmando acordo com a ESPN para transmissão dos Jogos de 2010 e 2012 para Argentina, em canal aberto, e para outros países da América do Sul, em canal fechado (o que excluí o Brasil, cantratado pela Record).

    Como de costume, os valores não são anunciados, mas a Associated Press especula que o negócio foi sacramentado pela pechincha de 10 milhões de dólares. Pelos mesmos eventos – Vancouver 2010 e Londres 2012, a Record pagou 60 milhões de dólares, com direitos só para o Brasil.

    Mas a ação da ESPN mostra uma tendência para os próximos anos, na disputa por direitos. Como mostra a mesma AP, no despacho linkado acima, os direitos para a América do Sul têm sido repassado a uma entidade criada só com essa finalidade coorporativa, a OTI – Organización de Telecomunicaciones Iberoamericanas.

    A OTI mantinha os contratos com o COI desde 1992 – Jogos de Barcelona. No Brasil, Globo e Band eram associadas e podiam repassar direitos. O organismo pagou 29 milhões de dólares pelos Jogos de 2006 e 2008 para toda a América Latina, para qualquer plataforma de transmissão, e nunca mais essas sifras serão tão modestas.

    O COI resolveu negociar país a país, dentre os mercados mais fortes, o que pegou a acomodada Globo de surpresa, após a jogada da Record, por Vancouver e Londres.

    A ESPN foi criada em 79 e essa é a primeira vez que a empresa da Disney consegue os direitos de forma direta para transmitir os Jogos Olímpicos.  A agência AP, apesar de informar a primazia, registra que uma subsidiária da multinacional na Ásia, a ESPN Star Sports, havia adquirido 2010 e 2012 para alguns países, anteriormente.

    O presidente do COI, Jacques Rogge, nota uma movimentação mais promissora e divulgou a seguinte frase: “Estamos satisfeitos ao anunciar esse acordo com a ESPN e aguardamos com interesse por esse trabalho com eles”.

    Para entender a entrelinha, basta dizer que a ABC e a ESPN, do mesmo conglomerado Disney, estão no páreo para o leilão pelos Jogos de 2014 e 2016, que deve ocorrer só depois de Vancouver. Em post anterior, já havia especulado sobre a sanha da ESPN e da possibilidade de, pela primeira vez, a ESPN fechar um pacote para toda a América, nos Jogos do Rio. Seria uma estratégia com a mesma ambição que tem sido tendência no COI, com se vê nos últimos lances das disputas por direitos.

    Os direitos de TV fechada para o Rio, são da Globo/Band, que podem repassar à ESPN local. Nenhum outro país das Américas já fechou acordo para transmissão de 2016.

    Arquitetura de legado

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    O arraia gigante, na primeira imagem deste post é Centro Aquático Olímpico de Londres, como vai ficar depois de terminado os Jogos de 2012. Durante a competição, uma estrutura temporária, com milhares de acentos adicionais, será erguida, com prejuízo mínimo para o belo desenho arquitetônico do complexo de duas piscinas.

     

     

     

    stone_towers_zaha_hadid_architectsO projeto é do escritório do arquiteto Zaha Hadid, priorizando o legado. Depois dos Jogos de 2012, o grande espaço, com mais de 17 mil acentos, perderá 2,5 mil cadeiras, prevendo a dura realidade que se reserva a esses grandes espaços olímpicos, no pós-evento. Aliás, Londres definiu essa estratégia, depois de escolhida pelo COI, em 2005. O projeto apresentado na eleição da sede, numa disputadíssima sessão de Singapura, tinha as arquibancadas permanentes (na primeira foto menor, que pode ser ampliada com clique), ainda que tenha sido desenhado pelo mesmo escritório de Zaha Hadid, um dos mais conceituados arquitetos do mundo (que faz desenhos premiados mundialmente, como essa segunda foto menor).

    Na planta do Rio, um parque aquático que desnivela a altíssima qualidade dos projetos arquitetônicos dos últimos Jogos, notadamente no Cubo D’Água de Pequim e nessa arraia de Zaha. Um vídeo (abaixo), só agora postado pelo site Around The Rings, em sua conta no Youtube (com grupo de vídeos produzidos pelo Co-Rio, sem edição, que seriam usados na apresentação de Copenhague), mostra que um efeito de luz dará uma atmosfera de cascata, na fachada de vidro do centro do Rio, o que não influi tanto, positivamente.

    O projeto brasileiro é da BCMF Arquitetos, um escritório de Belo Horizonte, que tem o Complexo de Deodoro no seu portifólio e que assina, de resto, os mais importantes equipamentos do plano da Rio 2016, como é o caso da Vila Olímpica.

    O que aconteceu em Londres serve para entender como será o processo brasileiro. COI e Cojo-Rio podem alterar os desenhos arquitetônicos, para não se correr o risco de desinteresse global, diante do nível de excelência que se chegou com os equipamentos olímpicos, erguidos nos últimos anos. Aliás, os ingleses estabeleceram um período, em 2006, para definição de adequações de designer dos projetos vencedores. Trabalhou-se o legado e espetáculo. O estádio olímpico foi outra das profundas mudanças estabelecidas, a partir do modelo original (piorado, por sinal e que discutiremos depois).

    Mas não há dúvidas que arquitetos brasileiros e grandes escritórios do mundo farão desenhos aperfeiçoados do modelo que venceu em Copenhague (abaixo).

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    Record flerta com Band

    A Record, como se sabe, garantiu os direitos de transmissão, com exclusividade, para os Jogos Olímpicos de 2010 (Vancouver) e 2012 (Londres), além dos Jogos Pan-americanos de 2011 (Guadalajara, no México) e de 2015 (em que a sede será definida nesta sexta-feira). A emissora vendeu os direitos para TV fechada, mas mantinha a política de tratar como exclusivo, a transmissão na TV aberta. Pelo que consta na coluna Radar, da Veja, a rede tem mudado de idéia.

    Pela nota do Radar, a Record avalia a possibilidade de ceder os direitos à Band, para os Jogos Pan-americanos. Ainda não se fala em negociar o Jogos de Vancouver ou Londres, na TV aberta, mas a emissora detentora descarta negociar com a Globo. É bom lembrar que todos esses eventos, garantidos com exclusividade, já foram repassados pela Record para Sportv e Bandsports, para transmissão em sinal fechado.

    Nesse sentido, a Sportv pode superar a audiência aberta, no início do próximo ano, quando da transmissão dos Jogos de Inverno. É que, também em apuração da coluna Radar, em outra nota, a Record irá enviar 80 profissionais para Vancouver, no Canadá, mas o grosso da produção será exibida no Record News, canal presente só em algumas praças brasileiras. Como o evento é pouco popular, no Brasil, a emissora “mãe” não quer arriscar.

    Ainda assim, os dirigentes da Record querem demonstrar forte comprometimento com o olimpismo. A emissora enviou para Guadalajara, no México, onde acontece a assembléia da Odepa, organização que administra o Pan, sua principal repórter especial, ex-apresentadora do Jornal da Record, Adriana Araujo. (E segue a reportagem do Portal R7.)

    A reportagem mostrou que o bispo Honorilton Gonçalves, segundo nome, na hierarquia da emissora, atrás apenas de Edir Macedo, estava no México para acompanhar a assembléia da Odepa, prometendo uma emissora agressiva, principalmente, na formação de equipe esportiva.

    Vislumbrando o mercado, é possível ver um único caminho pra se engrossar o magro quadro esportivo da emissora: com um assédio estratégico ao time da Sportv. Fosse Honorilton, contrataria o maior nome da emissora fechada do grupo Globo, como o Milton Leite, por exemplo, e já seria meio caminho andado.

    Pelas falas de Honorilton e o empenho de circular pessoalmente pelo universo da cartolagem, a Record aparecerá, em breve, com sagacidade.

    Em fevereiro, a emissora anunciou o desligamento de Eduardo Zebini, então responsável pelo departamento de esporte. Sérgio Hilinsky, ex-Globo, assumiria um posto de coordenação. Aparentemente, a direção geral da emissora coordena tudo, nesse momento. O blog Canal 1 não gostou daquela troca, fazendo referência às conquistas de Zebini, que teria sido o grande negociador para as exclusividade olímpicas da Record.

    A presença de Honorilton no México pode sinalizar para um maior comprometimento da emissora. Em silêncio, nos corredores da cartolagem, a Record continua incomodando. Semana passada, ofereceu mais pelos torneios internacionais de vôlei, mas a Federação Internacional manteve a Globo no contrato, pelas condições e promessas de visibilidade do esporte.

    Como se vê, dinheiro, a Record tem. Falta uma melhor estratégia de comunicação.

    Pobres x rico

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    Nesta sexta-feira, a Odepa – Organização Desportiva Pan-Americana – decide qual cidade será a sede dos Jogos Panamericanos de 2015. Bogotá (Colômbia), Lima (Peru) e Toronto (Canadá) são as candidatas (clique nos logos acima para acesso aos sites oficiais).

    Atualmente a Odepa tem 42 países-membros. Para fazer parte da entidade, um país das Américas deve ter um Comitê Olímpico Nacional reconhecido pelo COI. Cada um desses comitês olímpicos nacionais tem direito a ser representado por dois delegados (um titular e um suplente) nas Assembléias Gerais da Odepa, como a que ocorre nesta semana.

    Lima gastará menos com os Jogos, cerca de 300 milhões de doláres, ante os 380 milhões de dólares colombianos e o 1 bilhão de dólares prometidos pelos canadenses.

    Por essas e outras, Toronto desponta como favorita, mas o “fator América do Sul”, fresco na memória do mundo olímpico, pode garantir o Pan de 2015 a Bogotá ou Lima, sendo que a capital do Peru leva uma desvantagem, para além da implicação econômica: o comitê organizador peruano prometeu não cobrar direitos de transmissão para os países pobres, o que levou irritação para a cúpula da Opepa.

    A eleição é importante para o Brasil, por ser uma competição que o corre um ano antes dos Jogos do Rio, sendo que o Pan sempre foi mesmo um laboratório para os atletas latinos das Américas.

    Carlos Nuzman, presidente do Co-Rio, está em Guadalajara, no México, onde acontece a assembléia da Odepa. O brasileiro apresentará o cronograma de ação para 2010 e fará um agradecimento especial aos membros da entidade.

    Dinheiro limpo

    O COI divulgou ontem que a Visa extendeu sua parceria com a entidade até 2020, o que confirma o sexto patrocinador TOP para a Olimpíada do Rio, em 2016. A notícia é tão mais importante se analisado o fato de que essa é uma das arrecadações a que o Comitê Organizador dos Jogos também tem direito. A fatia para as obras da cidade brasileira, seguindo as projeções históricas, pode ser a maior e significará bilhões de dólares, em recursos diretos.

    Em linhas históricas, o que pouca gente tem observado, é que patrocinadores e TV podem render bilhões para a gestão dos Jogos. Os números do marketing do COI podem ser consultados em seu relatório de domínio público, com dados até a Olimpíada de Pequim, e servem para constatar o porquê dos concorrentes do Rio projetarem pouco gasto público, diante desse tipo de receita limpa. Na cidade brasileira, só se prevê maior intervenção governamental, em razão da conhecida deficiência estrutural, ainda na comparação com Chicago, Tóquio e Madri.

    No caso dos patrocinadores top, como são chamados os anunciantes com longos contratos mundiais com o COI, 50% da receita é direcionada ao Cojo – o Comitê Organizador dos Jogos. Os contratos são feitos por quadriênios e a divisão também atende às olimpíadas de inverno, em percentual desconhecido.

    O TOP Programme – em sigla em inglês para programa dos parceiros olímpicos ou The Olympic Partners – foi criado em 1985 e viu suas sifras se multiplicarem por 10, desde então. Do quadriênio Calgary/Seul ao Turim/Pequim, houve um salto de receita de US$ 96 milhões para US$ 866 milhões, com doze parceiros, no total.

    Só para constar, Vancouver 2010 e Londres 2012 contam com nove patrocinadores TOP – Coca-Cola, Acer, Atos Origin, GE, McDonald’s, Omega, Panasonic, Samsung and Visa. Já estão garantidos para o quadriênio Sochi/Rio seis parceirias: Atos, Panasonic, Samsung, Coca-Cola, Omega e Visa.

    O Cojo ainda pode fechar negócio com patrocinadores locais e essa promoção doméstica pode render até quase meio bilhão de dólares, como foram os casos de Salt Lake City, Atlanta e Sidney. E o bolo pode crescer, na dependência da gestão brasileira.

    Como o COI ainda não expõe os números do quadriênio Vancouver/Londres e Sochi/Rio, a mídia internacional abre um leque de projeções, algumas com aspas de membros importantes do COI.

    Já se sabe que os patrocinadores TOP estão pagando entre 900 e 920 milhões de dólares pelo quadriênio Vancouver/Londres e formidáveis 3,5 bilhões de dólares pelos direitos de TV para o mesmo período, sendo 2,2 bilhões somente da NBC norte-americana.

    No caso do quadriênio Sochi/Rio, o presidente do COI, Jacques Rogge, afirmou neste mês, que os contratos de TV já somam 920 milhões de dólares. E faltam os principais mercados, como EUA, França, Alemanha, Itália, Japão, dentre outros.

    É bom que se registre que, da soma de valores dos contratos de direitos de transmissão (acrescidos dos novos meios, como internet, celulat), 49% são destinados aos comitês organizadores, tendo a adversidade de Atenas, que recebeu 60% da receita, naquela ocasião – 2004.

    E especulo sobre a ação da ESPN/ABC, na disputa norte-americana. A emissora pode bater a NBC, com um planejamento diferenciado, como fechar um contrato com transmissão para toda a América, onde só o Brasil já confirmou os direitos. Com a penetração da ESPN nesses outro mercado, avalio que a a ação dessa major pode caminhar pra isso, com todos esses contratos em aberto.