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30 anos de cadeia

Voltei. Sem alarde e com as desculpas necessárias. Muito trabalho.

Continuo na luta, mas tenho que encontrar tempo para falar dos Jogos, meu grande aprendizado, em jornalismo, nesses tempos.

Volto, no momento em que o presidente Lula assina os protocolos e medida provisória, com o arcabouço de como será a gestão pública da Olimpíada de 2016.

Com o protocolo de intenções, ele cria, com o governador Cabral e o prefeito Paes a Autoridade Pública Olímpica (APO), um consórcio público interfederativo, formado pela União, governo do Estado e a Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.

O presidente também assinou a Medida Provisória que cria a Empresa Brasileira de Legado Esportivo S.A – Brasil 2016, em regime jurídico próprio das empresas privadas, vinculada ao Ministério do Esporte, com sede na cidade do Rio de Janeiro.

A APO, a ser presidido pelo Orlando Silva, com sabatina do Senado e tudo mais, e garantia de mandato até 2018, terá suporte administrativo da tal Empresa Brasil 2016.

A APO é cheia de conselhos (com representação da sociedade) e terá que abrir as nomeações com um perfil técnico, para não se misturar ao mundo da cartolagem amadora que impera no futebol.

Também não pode ser um cabide de empregos, risco inerente a sua legislação que terá sua implantação gradual, com corpo técnico contratado.

A letra da lei ainda não está disponível, mas os releases do Ministério do Esporte são didáticos sobre a APO e a nova Empresa.

Bom saber que a legislação brasileira seguirá os modelos de Jogos anteriores, Londres notadamente. O organismo britânico foi implantado em 2006 e o Brasil seguiu o mesmo cronograma – criando a lei seis anos antes do evento.

O presidente Lula justificou as medidas, com foco na transparência. Essa APO será amplamente responsabilizada, segundo o governo.

“Porque, depois, o cidadão que levar todos os louros da glória de realizar a Olimpíada, vai ter que prestar contas. E, na hora que prestar contas, somente quando fechar o balanço da Olimpíada, que ele tiver sido condenado a 30 anos de cadeia, é que ele, então, vai poder distituir o mandato,” no humor negro de Lula.

Aqui, em inglês, a legislação do organismo inglês, a ODA – Olympic Delivery Authority.

Como quebrar regras de conduta

A notícia de que o Co-Rio teria feito uma denúncia informal, contra a campanha de Chicago, é a mais lida do site do Chicago Tribune.

O prefeito Daley, de Chicago, foi dizer, dias atrás, que a Copa do Mundo de 2014 atrapalharia os Jogos de 2016, se fossem realizados no Rio. A declaração foi entendida pelo comitê brasileiro passível de reprimenda, já que as regras de conduta de candidaturas proíbe que representantes de uma comissão critique outra.

O Tribune foi lembrar que ninguém é santo, nessa história, diante de Havelange e de Lula. O primeiro falou em vinte votos confirmados e o segundo expôs um acordo com Madri.

Quem será o mais poderoso?

Obama irá a Copenhague. O furo foi a agência norte-americana Associated Press, que ouviu hoje a conselheira da Casa Branca, Valerie Jarrett (aqui, na transcrição do Globo). O presidente e sua esposa, Michelle, deixam os EUA, na noite quinta-feira. Na sexta-feira, além de faz parte da apresentação da cidade, a primeira a ter espaço, na programação oficial, ele também terá reuniões reservadas, para lobby.

O Co-Rio está dizendo que não mudará sua estratégia. Carlos Osório, secretário geral da campanha brasileira, minimizou, no Globo.

Ontem, o premiê japonês, Yukio Hatoyama, já havia confirmado sua presença, em Copenague, na sexta-feira (aqui, em despacho da AE). Zapatero, pela Espanha, Lula, pelo Brasil, e Obama, pelos EUA, completam a lista de chefes de governo, presentes na Dinamarca.

Lula superlativo

O melhor do dia, ficou com o momentun Lula. E deu no Times, dessa vez.

O jornalão norte-americano assinalou, em seu portal e na versão impressa de hoje (aqui, em inglês, e com a repercussão do Estado), tudo que um líder de governo gostaria de ouvir. “O trabalho mais fácil do mundo pertence ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, ao promover a candidatura do Rio para sediar as Olimpíadas de 2016”, abre a reportagem do New York Times.

O diário segue pontuando os principais momentos da coletiva concedida na tarde de ontem: “Quando alguém observou que Michelle Obama vai representar os Estados Unidos em Copenhague, Lula disse que está levando sua mulher com ele, ‘então serão dois contra um’.”

Os comentários de Lula também foram destaque no jornal americano Wall Street Journal, que ressalta que o presidente usou a pobreza para tentar atrair simpatia para a candidatura do Rio. “Eu acredito que os Jogos não sejam só um privilégio dos países ricos”, disse o presidente, no despacho do Journal. O material tem até vídeo.

De resto, até o Chicago Tribune participou da coletiva de ontem e uma longa reportagem da revista Newsweek completou o dia cheio para Lula. Nessa última publicação, veio o título que infla o líder brasileiro, chamado de “o mais popular político da Terra”. E o texto segue batendo bumbo: “Ele fez um espetacular trabalho, como presidente do Brasil”.

Lula segue nos Estados Unidos, divido entre a questão de Honduras e lobby olímpico.

A carta de Lula

Abaixo, a carta de Lula para os membros do COI, no bom inglês.

A missiva vai na linha “nós brasileiros entendemos o tremendo poder do esporte para transformar nações e tocar as vidas de milhões de pessoas, especialmente os jovens”.

Lula diz que aprendeu com Pequim e Londres e seu dever de casa servirá à gestão de uma possível organização dos Jogos por aqui. A carta teria cido remetida no último dia 15.

O teor do documento foi publicado hoje pelo site Around The Rings. Aliás, esse portal especializado, talvez o segundo em importância, no segmento (atrás do Games Bids), segue com uma aproximação com a candidatura brasileira. Como em outros veículos da área, maioria com sede nos EUA, o ATR também recebe publicidade do Co-Rio.

A edição especial do ATR para a Sessão e Congresso do COI, programado para Copenhague, no início do próximo mês, conta com três páginas de propaganda do Rio. O livro será distribuído no evento e o Cristo Redentor é uma peça de destaque, em meio a apresentações de candidatura de esportes que podem ser olímpicos e de pretendentes a vaga no COI (são seis e todos podem ser aceitos ou não).

A aproximação com a ATR, dentro da proposta do Co-Rio de investir muito, em promoção, no exterior, pode ter reflexos na próxima avaliação do site, que também publica um ranking que, atualmente, coloca a cidade carioca, na terceira posição, ao lado de Madri, com 77 pontos, e atrás de Chicago (80) e Tóquio (78). O veículo não comenta quando e se haverá uma nova revisão do ranking, antes de 2 de outubro. O chutômetro atual é de 8 de junho.

Segue a carta:

Dear [IOC member],

I write to convey to you my complete commitment to Rio 2016 – and indeed the total political support that this historic bid enjoys, from all three levels of Government and all the major political parties.

We Brazilians understand the tremendous power of sport to transform nations and touch the lives of millions of people, especially young people. We also appreciate that no-one has done more, over many years, to harness that power than you in the Olympic Movement.

For Rio de Janeiro to host the Olympic and Paralympic Games in 2016 would not only be a great honor, but also provide a wonderful catalyst for the ongoing social transformation of our country and our continent. We believe that the Olympic Flame will burn even more brightly in Rio.

This is why my Government is so strong and determined in our support of the bid. It is why we have given every possible guarantee and why we have approved a substantial and comprehensive funding package – one that will give the Rio Organizing Committee and indeed the IOC itself the greatest levels of financial certainty possible.

In recent months, I have traveled in support of the bid to Beijing, to London and elsewhere, learning more about what it takes to host the Games and more about the power and the values of the Olympic Movement.

As we enter the final weeks of this campaign, I am more excited than ever about we Brazilians working with the IOC to deliver Games of unique celebration, legacy and opportunity. I am looking forward to seeing you in the coming month of October in Copenhagen, and I sincerely hope that we will be taking the next steps of the journey to 2016 together.

Sincerely yours,

Luis Inácio Lula da Silva

President

Momentun Obama/Lula

Lula e Obama, em embate, com Zapatero de figurante.

O Chicago Tribune abriu a terça-feira revelando o teor da carta enviada pelo presidente dos EUA para os membros do COI, datada de 10 de setembro. Mas a iniciativa tem mesmo um efeito protocolar. É o uso da diplomacia corriqueira, mas Obama quer ser lembrado e usa de demagogia para bajular os votantes:

“Vejo os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos como uma oportunidade extraordinária para a América renovar seus laços de amizade com o restante do mundo”, disse. “Os Jogos serão uma prioridade da nossa nação”, prometeu.

No Terra, com agências, a repercussão da messiva do Obama.

Já o momentun Lula teve até uma ajuda nada bem-vinda de Honduras. O presidente deposto Zelaya voltou para seu país e se instalou na embaixada brasileira, com concentimento do presidente brasileiro. O lugar está cercado por militares e o Brasil está no centro do furacão diplomático. Resultado: quase 40 mil notícias, na busca do Google, o que equivale, no mesmo período de pesquisa a cerca de 10% do que se verifica ao se buscar a palavra Obama.

É um começo.

Ainda assim, só Lula deu entrevista hoje, para a mídia internacional e a pauta era, deveras, as maravilhas do Rio. A AFP fala de uma “defesa apaixonada”. Como se sabe, o presidente mantém um quase costume, ratificado nas últimas viagens ao exterior, de conceder essas coletivas, para falar da candidatura brasileira.

E também tem palavra de ordem, em suas declarações. “O Brasil está convicto de que o Rio de Janeiro tem para oferecer tudo o que as demais têm a oferecer, e um pouco mais”, afirmou Lula. Pela France Presse, ecoado na Folha Online, “Rio-2016 servirá para reafirmar autoestima dos brasileiros”.

Lula, em Nova York, também falou com o presidente espanhol, José Luis Zapatero, sobre Olímpiada de 2016. Para a EFE, ainda está valendo o acerto entre os dois países, em pacto de apoio na voltação de Copenhague. Quem sair primeiro, nas rodadas iniciais, faz campanha para o outro.

Detalhe: numa busca por Zapatero, no Google, para as últimas 24 horas, aparece quase a mesma quantidade de notícias que na pesquisa por “Lula”.

“Você precisa estar lá”

O Chicago Tribune é tão claro e objetivo que torna a campanha norte-americana pela sede dos Jogos de 2016 muito mais fácil. Em editorial, hoje, o maior jornal de Chicago, defendeu a participação de Obama, na eleição de Copenhague. E o texto não esconde o medo de derrota, com o quadro atual.

O grupo Tribune, em Chicago, tem cerca de 20 mil empregados, sete diários, com 8 milhões de leitores, ao todo – 11 milhões ao domingos. A mesma companhia conta com 15,5 milhões de visitantes em seus mais de 50 websites, na conta mensal. Os negócios giram 5,5 bilhões de dólares, 74% com as publicações e o restante com negócios de TV e entretenimento.

E foi na sua página mais cara (pensando na força de um jornal formador de opinião) que o grupo Tribune mandou seu recado: “Senhor presidente, você precisa estar lá”.

O jornalão faz a defesa mais objetiva da Olímpiada, até o momento, vindo de um veículo sediado nas cidades candidatas. “Nós continuamos a acreditar que os Jogos seriam uma grande coisa para Chicago – mesmo que o apoio público tenha sido chacoalhado por questões relacionadas às garantias financeiras, a serem fornecidas pelos contribuintes,” começa o Tribune.

O diário até lista os problemas orçamentários a serem equacionados – com fiscalização pesada, diga-se, mas não deixa de se posicionar favorável, dizendo-se confortável com as garantias assinadas e, mais animados, após a análise positiva da Civil Federation, uma consultoria independente. “A Olímpiada seria um grande gerador de empregos, uma chance para trazer negócios para a cidade, uma chance para colocá-la em nível internacional”, continua o editorial.

O jornal se basea na auditoria da Civil Federation (aqui, com 91 páginas, em inglês), um material impensável, por esses lados, mas que abrange e defende os Jogos até em uma cidade com serviços consolidados, sem deixar de apontar os problemas, como é o caso da Vila Olímpica.

E aí, o texto levanta a discussão mais importante, neste momento, para Chicago, concluindo que se trata de “uma boa idéia e que, não, a cidade não tem 2016 no bolso”. O editorail lembra que as outras três finalistas já têm as contas aprovadas e que, “se existe uma favorita, no pacote, o COI não está dizendo”.

O jornal não entende as razões alegadas pela Presidência para a ausência de Obama, a saber, pelo fato do presidente estar envolvido com a aprovação pelo Congresso da reforma da saúde. O Tribune, então, ironiza, na pergunta: “Ele teme que os republicanos façam um ataque supresa, em sua ausência, quando ele estiver em Copenhague?”

E a resposta do jornalão é ainda mais reveladora, indo em direção a uma especulação corrente na web: “nós suspeitamos que Obama está sendo cauteloso sobre colocar seu prestígio no limite, se voltar de mãos vazias. Seria difícil perder para um cara apelidado de Lula”, dispara o CT.

A suposição não seria tão ridícula, sendo que o mesmo Tribune já havia revelado que o presidente só iria à Dinamarca se a vitória de Chicago fosse certa, temendo a perda de uma popularidade que passa por um momento perigoso.

Otimismo ou estratégia

Lula profetizou hoje, na rádio Tupi, do Rio, e a agência AP ecoa quase instantaneamente pelo mundo afora, ampliando o clima de “a Olimpíada é nossa” que tem tomado conta das autoridades políticas envolvidas na campanha brasileira pelos Jogos de 2016.

Lula disse à Tupi que Brasil “terá um conjunto de obras públicas combinadas entre governo federal, governo estadual e governo municipal, para que quando chegar nas Olimpíadas, nós estejamos prontos para fazer a melhor e a mais extraordinária olimpíada”. O presidente já fala com a certeza da escolha do COI:

“Eu tenho a convicção plena de que quem vier para cá participar dos Jogos Olímpicos, vai sair daqui dizendo que não existe povo mais extraordinário do que este povo brasileiro, não existe povo mais alegre, povo mais sensato, povo mais, eu diria, apaixonado do que o povo brasileiro.”

E tem mais declarações (que segue, com menos convencimento):

“Olha, eu só não sou mais cabo eleitoral das Olimpíadas no Rio de Janeiro do que o Governador e o Prefeito do Rio. Agora, eu tenho trabalhado, eu tenho conversado, eu tenho viajado e tenho mostrado para os delegados que vão votar que qualquer país que tiver uma olimpíada, seja Madri, que está reivindicando agora, seja Tóquio, sejam os Estados Unidos, Chicago, qualquer um deles, será apenas mais uma olimpíada, porque já tiveram. Os Estados Unidos, entre Olimpíadas e Olimpíadas de Inverno, já fizeram oito. Barcelona já fez, Tóquio já fez. A América do Sul, a América Latina só teve um Jogos Olímpicos que foram no México, em 1968. Ora, não é justo que o Brasil que está entre as dez maiores economias do mundo há 30 anos, o Brasil que é um dos países industrializados do mundo, um país que tem uma demonstração de uma vocação enorme para o esporte, não é justo que o Brasil não seja escolhido. Para os outros é apenas mais uma olimpíada, para nós é uma oportunidade de mostrar a nossa autoestima, de mostrar a nossa competência, de mostrar que a gente pode fazer melhor do que eles. Eu estou convencido disso. Uma coisa importante, Barbosa [apresentador da Tupi], que… algumas pessoas, ‘Mas o Brasil é pobre, não tem dinheiro, o Brasil não sei das quantas…'”

A visita ao Rio coincide com o retorno do prefeito Eduardo Paes e do governador Sérgio Cabral, que estavam em Berlim. E ficou claro que foram eles que alimentaram esse “já-ganhou” do presidente. A partir de declarações dos dois cariocas, que dizem ter trazido da Alemanha as melhoes das impressões, se nota a boa brisa que circula pela cidade e que teria contaminado Lula (como nas reproduções do Michel Castelar, no seu blog, aqui).

Bom que a AP espalhou humildade (como aqui, no USA Today), dizendo que o presidente acredita na capacidade do brasileiro e outras vantagem, sem o tom de afirmação, como está na degravação da entrevista.

Vai-não-vai

09obama300Quem vai a Copenhague?

A Dinamarca receberá chefes de estado e a cúpula do COI no momento que acontecerá o 13º Congresso da entidade, um evento realizado a cada 15 anos (e que tem site próprio, aqui). Antes da reunião maior, entre 3 e 5 de outubro, a cidade terá palco, no dia 2, para a 121ª Sessão do Comitê Olímpico Internacional, o nome do encontro usado para escolha das sedes dos Jogos de Verão e Inverno. Os grandes players dos quatro comitês proponentes têm dito, dia após dia, que a definição da cidade sede de 2016 será de última hora, em gabinetes provisórios instalados na rica capital dinamarquesa.

Então, sabemos, tem muita gente, nesse momento, preparando o script perfeito da apresentação final, que será ao vivo para todo o mundo, pensando na estratégia de surpresa e na jogada mais efetiva, desde que Londres usou desses extremos para vencer a disputa por 2012. E, com o transcurso da disputa, fica evidente que todas os comitês esbarrarão na perfeição, caminhando para uma mesma direção que, parece, pelo que anda dizendo os líderes das campanhas de Chicago e Madri, seguirão o tom emocional dos vídeos do Rio.

Pode até valer e, por certo, Paris fez isso melhor que o visto nessas últimas sessões e que se verá por um longo tempo (talvez até entrar no ar as curvas do Rio). Os travellings pelas ruas da capital francesa (com gruas no meio da Champs Elysees), em 2005, e com Catherine Deneuve apresentando a cidade (ao som, diga-se, da “Aquarela” de nosso Ary Barroso), é de uma beleza que merecia vencer (só vendo, aqui). Mas a conversa agora é de bastidores, feito o básico para se chegar na 121ª Sessão do COI.

Lula vai
Hoje, o comitê brasileiro confirmou (aqui), em Berlim, que o presidente Lula liderará o grupo de apoio ao Rio que estará em Copenhague, em outubro. Está em jogo uma exposição mundial nunca sonhada por qualquer autoridade brasileira. E a vitória carioca pode significar uma bandeira política na sucessão do próximo ano e Lula é mesmo um dos players dessa campanha e terá o direito de colher tal popularidade, ao mesmo tempo que expõe a cara para a batida da mídia investigativa. Mas a derrota, no caso brasileiro, não seria tão prejudicial, na comparação com o descrédito que atingiria o presidente norte-americano.

Obama não vai
O presidente Obama dá sinais de que não deverá comparecer ao embate final de Copenhague. Reportagem da Bloomberg.com (aqui, em inglês) avança até as ante-salas da Casa Branca e mostra que o staff que liga o comitê de Chicago à maior liderança política do mundo tem ensaiado mais as desculpas pela ausência que o discurso da vitória.

Dessa vez, quem fala ao Bloomberg.com é Valerie Jarrett, uma conselheira sênior, que, como sabem, do círculo pessoal de Obama, desde os escritório de Chicago, é o melhor que o presidente fez pela cidade norte-americana até o momento. Jarrett participou da campanha eleitoral que catapultou o democrata, mas não tem peito para confirmar a ida de seu líder a Copenhague.

“Não tomamos essa decisão, ainda”, simplificou, deixando claro que “podemos ter certeza” que os norte-americanos “irão ser muito bem representados, em Copenhague”, de forma mais evasiva que o possível. Obama estaria aguardando pelas estratégias dos adversários e por enquanto só se ouve as declarações que a agenda do presidente pode atrapalhar a viagem.

O Bloomberg já sabe que haverá, em outubro, a votação no Congresso sobre a reforma da saúde, o que é considerado uma prioridade doméstica, com uma ameaça clara sobre o orçamento nacional, para além dos 17% do PIB norte-americano. O foco está em estancar o crescimento dos custos da saúde, no país. Mas, não só os compromissos internos preocupam os conselheiros que temem a derrota em Copenhague. O fracasso seria um risco de popularidade, com o retorno aos EUA, sem entregar a vitória aos norte-americanos. Como disse antes, um risco muito maior, focando as ações de Lula, que entrou nessa como coadjuvante.

A reforma na saúde, hoje, é muito mais importante para Obama, politicamente. A tensão no Congresso é grande, mas essa é uma das grandes bandeiras dos democratas, nunca antes transposta. O presidente atual quer entrar para o panteão dos grandes líderes reformadores (leia mais sobre a reforma, aqui).

Patrick Ryan, o número um do Co-Chicago, antecipa o que deverá acontecer. O comitê está preparando “uma final” com a aparição de Obama e uma outra sem sua presença dele em Copenhague. “Será uma decisão muito próxima do fim”, diz. “E se ele vier, será um fator positivo”.

Ken Duberstein, um chefe de staff do ex-presidente Reagan, percebe a preocupação na Casa Branca. “Você não quer colocar o presidente na posição em que ele vai para Copenhague e não volta vitorioso”, diz o também membro do comitê olímpico norte-americano.

No mesmo texto, tem o pitaco de Samaranch Jr., dizendo que é “um pouco frívolo” especular se Obama fará isso ou não. Além disso, vemos que Jarrett irá a Copenhague e cuidará de perto das costuras políticas. Na ausência do homem todo-poderoso, sua fiel escudeira pode não dar para o gasto.

A carta amarela

Lula pegou Obama de jeito (Foto: AFP)

Lula pegou Obama de jeito (Foto: AFP)

Nem precisa dizer muito da foto. Mesmo porque, os dois presidentes não falaram com a imprensa e ficou no ar só uma interjeição do presidente Obama: “Olha isso. Maravilhoso”.

O dia para Chicago não poderia ter sido pior, prevendo-se que será uma imagem que percorrerá o mundo. E, nota-se, o presente foi mesmo uma surpresa para o cerimonial do presidente americano que nem retribuiu a delicadeza, como é de costume, nessa esfera de autoridades. Foi uma grande tacada dos estrategistas do Co-Rio.

Ficou pior

De resto, o dia de Chicago piorou mesmo, com a publicação pelo Chicago Tribune de uma carta do COI, endereçada ao Comitê Olímpico dos Estados Unidos (Usoc, em inglês), com uma forte crítica dos membros da executiva do COI sobre a manobra do Usoc para criar um canal a cabo. As duas entidades trataram do assunto, na última semana, sendo que os americanos teriam quebrado um acordo. Para o COI, a ideia do canal é catastrófica. Quando se mexe no bolso da entidade máxima, as consequências podem ser terríveis. Sendo que é exatamente por isso que Chicago tinha tanta vantagem na corrido por 2016.

“O Usoc escolheu ir adiante, o que colocou a candidatura de Chicago pelos Jogos de 2016 em uma posição complicada,” diz Philip Hersh, do jornalão de Chicago. No seu blog (aqui, em inglês), ele publica a carta e o trecho do estatuto do COI em que trata a questão dos direitos de transmissão e sua comercialização (abaixo, reproduzimos a imagem do Chicago Tribune).

Em outro post (aqui), Philip Hersh enumera os problemas que o Usoc tem levado para a candidatura de Chicago. Mexer com os direitos de transmissão do COI, com a rede NBC, é mesmo o maior tiro no pé dos norte-americanos. Terão que resolver isso em curto tempo e a cúpula da candidatura já dá uma de bombeiro para apagar mais esse fogo, para além das chamas ainda acesas das contas da prefeitura que só fecharão se contribuinte pagar a conta de 2016.

A AP despachou nesta noite, mostrando que o “COI fez uma crítica severa ao Usoc, nesta quinta-feira, por ‘unilateralidade’, lançando sua própria rede de TV, advertindo que esse projeto poderia comprometer a relação com a rede olímpica NBC” (leia aqui, em inglês).

É gravíssimo, o caso. Os planos da Usoc foram apresentados ontem. A NBC tem os direitos de transmissão para o Estados Unidos, até os Jogos de 2012, em Londres, e pagou 2,2 bilhões de dólares pelo pacote, que inclui Vancouver 2010. A grande rede também tinha espectativa de levar o pacote que inclui Sochi 2014 e os Jogos de 2016.

A seguir, a carta:

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