Quem vai a Copenhague?
A Dinamarca receberá chefes de estado e a cúpula do COI no momento que acontecerá o 13º Congresso da entidade, um evento realizado a cada 15 anos (e que tem site próprio, aqui). Antes da reunião maior, entre 3 e 5 de outubro, a cidade terá palco, no dia 2, para a 121ª Sessão do Comitê Olímpico Internacional, o nome do encontro usado para escolha das sedes dos Jogos de Verão e Inverno. Os grandes players dos quatro comitês proponentes têm dito, dia após dia, que a definição da cidade sede de 2016 será de última hora, em gabinetes provisórios instalados na rica capital dinamarquesa.
Então, sabemos, tem muita gente, nesse momento, preparando o script perfeito da apresentação final, que será ao vivo para todo o mundo, pensando na estratégia de surpresa e na jogada mais efetiva, desde que Londres usou desses extremos para vencer a disputa por 2012. E, com o transcurso da disputa, fica evidente que todas os comitês esbarrarão na perfeição, caminhando para uma mesma direção que, parece, pelo que anda dizendo os líderes das campanhas de Chicago e Madri, seguirão o tom emocional dos vídeos do Rio.
Pode até valer e, por certo, Paris fez isso melhor que o visto nessas últimas sessões e que se verá por um longo tempo (talvez até entrar no ar as curvas do Rio). Os travellings pelas ruas da capital francesa (com gruas no meio da Champs Elysees), em 2005, e com Catherine Deneuve apresentando a cidade (ao som, diga-se, da “Aquarela” de nosso Ary Barroso), é de uma beleza que merecia vencer (só vendo, aqui). Mas a conversa agora é de bastidores, feito o básico para se chegar na 121ª Sessão do COI.
Lula vai
Hoje, o comitê brasileiro confirmou (aqui), em Berlim, que o presidente Lula liderará o grupo de apoio ao Rio que estará em Copenhague, em outubro. Está em jogo uma exposição mundial nunca sonhada por qualquer autoridade brasileira. E a vitória carioca pode significar uma bandeira política na sucessão do próximo ano e Lula é mesmo um dos players dessa campanha e terá o direito de colher tal popularidade, ao mesmo tempo que expõe a cara para a batida da mídia investigativa. Mas a derrota, no caso brasileiro, não seria tão prejudicial, na comparação com o descrédito que atingiria o presidente norte-americano.
Obama não vai
O presidente Obama dá sinais de que não deverá comparecer ao embate final de Copenhague. Reportagem da Bloomberg.com (aqui, em inglês) avança até as ante-salas da Casa Branca e mostra que o staff que liga o comitê de Chicago à maior liderança política do mundo tem ensaiado mais as desculpas pela ausência que o discurso da vitória.
Dessa vez, quem fala ao Bloomberg.com é Valerie Jarrett, uma conselheira sênior, que, como sabem, do círculo pessoal de Obama, desde os escritório de Chicago, é o melhor que o presidente fez pela cidade norte-americana até o momento. Jarrett participou da campanha eleitoral que catapultou o democrata, mas não tem peito para confirmar a ida de seu líder a Copenhague.
“Não tomamos essa decisão, ainda”, simplificou, deixando claro que “podemos ter certeza” que os norte-americanos “irão ser muito bem representados, em Copenhague”, de forma mais evasiva que o possível. Obama estaria aguardando pelas estratégias dos adversários e por enquanto só se ouve as declarações que a agenda do presidente pode atrapalhar a viagem.
O Bloomberg já sabe que haverá, em outubro, a votação no Congresso sobre a reforma da saúde, o que é considerado uma prioridade doméstica, com uma ameaça clara sobre o orçamento nacional, para além dos 17% do PIB norte-americano. O foco está em estancar o crescimento dos custos da saúde, no país. Mas, não só os compromissos internos preocupam os conselheiros que temem a derrota em Copenhague. O fracasso seria um risco de popularidade, com o retorno aos EUA, sem entregar a vitória aos norte-americanos. Como disse antes, um risco muito maior, focando as ações de Lula, que entrou nessa como coadjuvante.
A reforma na saúde, hoje, é muito mais importante para Obama, politicamente. A tensão no Congresso é grande, mas essa é uma das grandes bandeiras dos democratas, nunca antes transposta. O presidente atual quer entrar para o panteão dos grandes líderes reformadores (leia mais sobre a reforma, aqui).
Patrick Ryan, o número um do Co-Chicago, antecipa o que deverá acontecer. O comitê está preparando “uma final” com a aparição de Obama e uma outra sem sua presença dele em Copenhague. “Será uma decisão muito próxima do fim”, diz. “E se ele vier, será um fator positivo”.
Ken Duberstein, um chefe de staff do ex-presidente Reagan, percebe a preocupação na Casa Branca. “Você não quer colocar o presidente na posição em que ele vai para Copenhague e não volta vitorioso”, diz o também membro do comitê olímpico norte-americano.
No mesmo texto, tem o pitaco de Samaranch Jr., dizendo que é “um pouco frívolo” especular se Obama fará isso ou não. Além disso, vemos que Jarrett irá a Copenhague e cuidará de perto das costuras políticas. Na ausência do homem todo-poderoso, sua fiel escudeira pode não dar para o gasto.