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Quem será o mais poderoso?

Obama irá a Copenhague. O furo foi a agência norte-americana Associated Press, que ouviu hoje a conselheira da Casa Branca, Valerie Jarrett (aqui, na transcrição do Globo). O presidente e sua esposa, Michelle, deixam os EUA, na noite quinta-feira. Na sexta-feira, além de faz parte da apresentação da cidade, a primeira a ter espaço, na programação oficial, ele também terá reuniões reservadas, para lobby.

O Co-Rio está dizendo que não mudará sua estratégia. Carlos Osório, secretário geral da campanha brasileira, minimizou, no Globo.

Ontem, o premiê japonês, Yukio Hatoyama, já havia confirmado sua presença, em Copenague, na sexta-feira (aqui, em despacho da AE). Zapatero, pela Espanha, Lula, pelo Brasil, e Obama, pelos EUA, completam a lista de chefes de governo, presentes na Dinamarca.

Momentun Obama/Lula

Lula e Obama, em embate, com Zapatero de figurante.

O Chicago Tribune abriu a terça-feira revelando o teor da carta enviada pelo presidente dos EUA para os membros do COI, datada de 10 de setembro. Mas a iniciativa tem mesmo um efeito protocolar. É o uso da diplomacia corriqueira, mas Obama quer ser lembrado e usa de demagogia para bajular os votantes:

“Vejo os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos como uma oportunidade extraordinária para a América renovar seus laços de amizade com o restante do mundo”, disse. “Os Jogos serão uma prioridade da nossa nação”, prometeu.

No Terra, com agências, a repercussão da messiva do Obama.

Já o momentun Lula teve até uma ajuda nada bem-vinda de Honduras. O presidente deposto Zelaya voltou para seu país e se instalou na embaixada brasileira, com concentimento do presidente brasileiro. O lugar está cercado por militares e o Brasil está no centro do furacão diplomático. Resultado: quase 40 mil notícias, na busca do Google, o que equivale, no mesmo período de pesquisa a cerca de 10% do que se verifica ao se buscar a palavra Obama.

É um começo.

Ainda assim, só Lula deu entrevista hoje, para a mídia internacional e a pauta era, deveras, as maravilhas do Rio. A AFP fala de uma “defesa apaixonada”. Como se sabe, o presidente mantém um quase costume, ratificado nas últimas viagens ao exterior, de conceder essas coletivas, para falar da candidatura brasileira.

E também tem palavra de ordem, em suas declarações. “O Brasil está convicto de que o Rio de Janeiro tem para oferecer tudo o que as demais têm a oferecer, e um pouco mais”, afirmou Lula. Pela France Presse, ecoado na Folha Online, “Rio-2016 servirá para reafirmar autoestima dos brasileiros”.

Lula, em Nova York, também falou com o presidente espanhol, José Luis Zapatero, sobre Olímpiada de 2016. Para a EFE, ainda está valendo o acerto entre os dois países, em pacto de apoio na voltação de Copenhague. Quem sair primeiro, nas rodadas iniciais, faz campanha para o outro.

Detalhe: numa busca por Zapatero, no Google, para as últimas 24 horas, aparece quase a mesma quantidade de notícias que na pesquisa por “Lula”.

Candidatura de Estado

O Form 990 é um documento a ser preenchido pelas entidades sem fins lucrativos, nos Estados Unidos. É o maior controle de doações da rigorosa receita do país mais rico do mundo. O Comitê Organizador de Chicago 2016 ainda não apresentou o seu relatório de 2008 e joga nuvens sobre os números da campanha favorita na disputa pelos Jogos Olímpicos.

O Chicago Tribune (aqui, em inglês) ouviu um dos 50 vereadores da cidade que expôs uma temeridade que só tem aumentado, nos dias que precedem a eleição de 2 de outubro. Na mesma reportagem, o representante do Comitê de Chicago falou que não havia qualquer problema e que requereram “mais tempo [à Receita-IRS] porque outras coisas precisavam ser feitas até o fim de agosto”.

Mas acontece que o Comitê pede uma prorrogação até meados de novembro, um mês e meio depois das eleições de Copenhague, quando qualquer declaração à Receita norte-americana, não trará prejuízo à campanha dos Estados Unidos.

O vereador do primeiro distrito de Chicago, Manny Flores, ficou desconfiado. “Eu reconheço que o Comitê 2016 está envolvido em sua candidatura, porém isso levanta questões sérias,” disse. Esse representante quer aprovar no Conselho Municipal (a câmara de vereadores deles) um dispositivo que limita os gastos do Município em 500 milhões de dólares, a única despesa assumida oficialmente por Chicago, até agora. “Se somos sérios sobre a proposição dos Jogos, nós precisamos nos manter responsáveis. [O formulário 990] é um requerimento de padrão básico,” disse o vereador, estranhando o porquê do suspense.

Mas o Comitê norte-americano trabalha nesse momento para fechar uma equação que parece simples para os brasileiros, acostumados com o parternalismo do estado (que pode ser conveniente para nossas autoridades). Lá é mesmo diferente, embora nesse momento a gestão do COI esteja muito mais próxima aos ditames estatais. O apoio governamental tem um peso cada vez mais fundamental, nessa escolha. É aqui, nas garantias de estado – e na força da TV, também, que se decide a eleição das sedes olímpicas.

Justamente os dois últimos vacilos de Chicago. New York, que ainda tinha a TV a seu favor – sendo que a NBC fechou contrato com o COI em 2004, um ano antes da escolha da sede de 2012, caiu sem chegar à disputa final, pela sentida ausência de Bush – ao contrário de Blair e seu levante pró-Londres.

A coisa é tão séria, no quesito promiscuidade entre o movimento olímpico e o poder público, que, em um encontro hoje, entre os organizadores de Madri e o presidente da Espanha, José Zapatero, ficou sacramentado o papel do governo na proposta madrilenha que, nas palavras do prefeito Gallardón, é uma “candidatura de estado” (aqui, em espanhol).

O coro ensaiado na reunião com Zapatero definiu que a máxima de Madri, seria o completo apoio do Estado e ficou definido, assim, que a aposta brasileira será mesmo a pauta principal até 2 de outubro.

Se for assim, Obama não pode fazer muito, segundo uma aposta antiga dos organizadores do Comitê de Madri que até preveem a presença do presidente dos EUA, em Copenhague. Os espanhóis avaliam que o poderoso líder norte-americano não terá cartas na manga, na dependência de aprovações do Congresso norte-americano, ainda segundo Samaranch Jr., o único votante espanhol do COI, em claro momento de desdém.

Obama não teria o que mostrar? Se a resposta for negativa, esse sim seria o pior cenário para Chicago.

Mas, um fator, o Comitê dos norte-americanos tem administrado com um sucesso inconteste: como favorita, Chicago tem levado tiros de todos os lados e sobrevive nas cabeças, apesar disso. É a melhor gestão de crise até aqui. Socorrem daqui e dalí e podem chegar em outubro com arranhões, quando, em outro alvo, já seria o decreto de morte (imagem o Rio bombardeado assim…).

Aliás, o Rio deve evitar qualquer sinal de oba-oba (deixem o papel de torcida para as comunidades e fóruns da internet, sendo que os brasileiros já dominaram todos, o que inclui o GamesBids).

Nesta semana, a coluna Gente Boa, do Globo, publicou nota revelando que o governador do Rio, Sérgio Cabral, determinou para sua secretária de Cultura que definisse seis pontos da cidade onde seria comemorado o resultado de 2 de outubro. É óbvio que o governo tem que preparar o terreno para manifestações populares (preparar a segurança, acima de tudo), mas a antecipação fez o jornal carioca interpretar a ação de outra forma.

E o Globo pipoca o bom momento do Co-Rio (sendo que a Folha já havia feito o mesmo), no momento que o The New York Times desanca com as contas de Chicago – algo que já devia ter comentado no início desta semana (e a reportagem está aqui, em português).

O maior dos jornais americanos vê crescer o movimento contrário aos gastos da cidade com a campanha pelos Jogos. O site No Games é citado e faz mesmo muito barulho e o TNYT cita ainda a reprovação dos chicagoans. 75% são contra o uso do dinheiro público, segundo enquete do Chicago Tribune, reproduzida nessa outra reportagem.