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Lula ronda Lausanne

Museu Olímpico, local da reunião

Museu Olímpico, local da reunião

A mídia interna começa a noticiar sobre a apresentação oficial das candidatas a sede dos Jogos de 2016 ao membros do COI, na próxima semana. Será o primeiro encontro das cidades postulantes com todos os votantes do Comitê, sendo que terá as portas fechadas para a imprensa.

Hoje, o Estadão revelou que “o Itamaraty vai nomear um assessor do governador do Rio, Sérgio Cabral, para o posto de cônsul do Brasil em Genebra. A cidade fica a pouco mais de 30 minutos de Laousanne, sede do COI”.

“O escolhido para a função é o diplomata Ernesto Rubarth, que nos últimos anos atuou como subsecretário de relações internacionais de Cabral. Oficialmente, Rubarth terá a função de atender aos interesses dos brasileiros que vivem na região de Genebra, Suíça”. Na prática, “Ernesto Rubarth, porém, ainda terá a função de acompanhar de perto o que ocorrerá no COI nos próximos meses”.

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O Estadão também revela que o lobby do Itamaraty irá se intensificar, mas que o Co-Rio decidiu pela não visita do presidente Lula a Lausanne, na próxima semana, apesar de estar tão próximo, em Genebra, onde ocorrerá encontro da Organização Internacional do Trabalho. A viagem de Lula a Suíça é confirmada pelo Itamaraty, “mas o COB demoveu o presidente da ideia, alegando que a iniciativa poderia ser mal-interpretada no COI”. Ou seja, Lula estará muito próximo, mas não circulará pela cidade vizinha.

Já a Folha, informou hoje, no Painel FC, que o lobby será permitido. Além disso, o diário acredita em furo jornalístico quando informa que “a apresentação oficial ao COI da candidatura do Rio a 2016, em Lausanne, já têm data e local definidos. Será na próxima quarta, às 14h, no Museu Olímpico”. O cronograma do COI (aqui, em inglês) diz que a apresentação brasileira será às 15h30, hora local (ou 10h30, na hora de Brasília), da próxima quarta-feira.

Mas a informação mais útil da Folha está numa segunda nota: “Nos dois dias anteriores [segunda e terça-feira próximas], os membros com direito a voto poderão ser abordados diretamente”.

As candidatas irão montar showrooms, em hotel de Lausanne, que serão visitados, no período da manhã de quinta-feira por todos os membros do COI. Obviamente, os projetos de apresentação das cidades não são conhecidos. Mas os estrategistas sabem que esse é um momento chave.

Diplomaticamente falando

A estratégia brasileira, para além das apresentações protocolares, em que todas as candidaturas se igualam, está mesmo focada na diplomacia. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, já deixou cristalino o plano do Brasil, nas disputas internacionais, que mirava a Olimpíada de 2016 e a OMC. Para provar a eficiência do Itamaraty, só lhe resta o embate olímpico de 2 de outubro, após a queda de Ellen Gracie.

A Folha revelou hoje, no Painel FC, que o governo criou um departamento, no MRE, para utilizar o esporte como ferramenta na diplomacia do Brasil com outros países. “Na segunda-feira, o Ministério deve formalizar pedido para que a partida Corinthians X Flamengo, marcada para 28 de novembro, pelo Brasileiro, seja realizada na Palestina”.

“O jogo é visto pelos dois clubes como uma forma de ganhar fama internacional. Acreditam que o duelo em uma área de conflito, se de fato ocorrer, repercutirá no mundo todo e atrairá convites de outros países.”

Falando especificamente de Olimpíada, sabemos que o presidente Lula é peça chave nessa disputa e os próprios norte-americanos entendem assim. Nesta semana, o Indystar.com fez suas especulações sobre o poder de Obama, nessa disputa (aqui, em inglês), não descartando a influência do presidente brasileiro.

O jornal ouviu Ed Hula, da equipe do Around the Rings, que só questionou um aspecto de Lula. “Ele pode ser charmoso, mas ele não fala inglês”, disse ao Indystar. Mas o especialista entende que o único outro líder com personalidade para influenciar o COI é o presidente do Brasil.

O Indystar também fala de um ponto de desequilíbrio, na candidatura de Chicago, com referências às mudanças de gestão da confederação nacional dos Estados Unidos. As trocas têm lançado dúvidas sobre a habilidade de Chicago, repetindo fato que prejudicou Nova York, na disputa por 2012.

Sobre Lula, suas andanças estão indo em direção aos votantes, ainda que seja cada vez mais difícil medir qual é seu poder de influência real e o acesso aos eleitores. Mas, se sabe, ainda, que muitos dos membros do COI, circulam nos palácios de governo espalhados pelo mundo, quando não moram em um desses. E também não se pode desprezar o histórico político dessa disputa: Tony Blair, quando primeiro ministro inglês, desequilibrou e impulsionou Londres 2012, o que virou mantra entre os estrategistas das cidades pleiteantes.

Sobre isso, Lula deve virar mesmo peça fundamental. Nesta semana, os bastidores deram conta de que Obama estaria trabalhando para que o presidente brasileiro assumisse a presidência do Banco Mundial, em 2011. Justo Obama, a arma de Chicago.

Abaixo, listo os países visitados por Lula, lembrando que a próxima missão pró-Rio do presidente está marcada para os próximos dias 15 e 16, na Suíça, onde o presidente participará de encontro da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e deve se deslocar até Lausanne, onde acontecerá uma reunião do COI, com apresentação das cidades candidatas.

Lula na volta ao mundo (2009)

Bolívia – dia 15 de janeiro
Venezuela – dias 15 e 16 de janeiro
Estados Unidos – 13, 14, 15 e 16 de março (2 votos no COI)
Chile – 27 e 28 de março
Catar – 29 a 31 de março (1 voto)
França – 1º de abril (2 votos)
Inglaterra – 1º, 2 e 3 de abril (3 votos)
Trinidad e Tobago – 17, 18 e 19 de abril
Argentina – 22 e 23 de abril
Arábia Saudita – 16 e 17 de maio (1 voto)
China – 18, 19 e 20 de maio (2 votos)
Turquia – 20, 21 e 22 de maio (1 voto)
El Salvador – 31 de maio e 1º de junho
Guatemala – 1º e 2 de junho (1 voto)
Costa Rica – 3 de junho

Tropeço diplomático

No front diplomático, o Brasil levou uma derrota, hoje, que pode respingar ou mesmo minar a política dedicada à candidatura do Rio de Janeiro, pelos Jogos de 2016. A Organização Mundial do Comércio (OMC) rejeitou a candidata brasileira Ellen Gracie Northfleet, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, para o posto de juíza da entidade. O eleito foi o advogado mexicano Ricardo Ramirez. A OMC informou ao Itamaraty que avaliou que Ellen Gracie não conhecia a matéria que teria de julgar: comércio. O Brasil ainda não contou com o voto americano, nem chinês.

Segundo a Agência Estado (aqui), o Itamaraty ainda foi informado por fontes nos bastidores que, para governos latino-americanos, a estratégia era a de não deixar o Brasil permanecer de forma indefinida no cargo máximo do tribunal da OMC. Um brasileiro já havia estado por oito anos no posto e, se Elle Gracie fosse eleita, significaria que o Brasil teria 16 anos no cargo.

Há duas semanas, o chanceler Celso Amorim afirmou no Senado que o Brasil tinha apenas duas campanhas no cenário internacional. A primeira era Ellen Gracie. A segunda, o Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas em 2016. Agora, só ficará mesmo a campanha pelos Jogos de 2016. A declaração de Amorim ainda foi uma resposta às informações que corriam sobre sua candidatura ao cargo de diretor da Agência Internacional de Energia Atômica.

A derrota ainda vem no momento em que o governo decidiu não apoiar o brasileiro Márcio Barbosa para o posto máximo na Unesco. Em seu lugar, vai apoiar o egípcio Farouk Hosni, criticado por intelectuais de todo o mundo.

Comentando a notícia: Dizer o quê…? A força diplomática brasileira é colocada à prova, no primeiro teste pré-Copenhague, e o resultado não é animador, culminado com um voto contra… da China. Justo da China, com o lobby tão fresquinho do presidente Lula, feito há menos de uma semana. Pode parecer uma decisão estritamente comercial, mas é exatamente disso que trata a decisão de 2 de outubro. É comercial sim. Ou se acredita na conversa do “movimento olímpico”? Aliás, o congresso do COI, o 121º, marcado para a primeira semana de outubro, começa com a eleição da sede de 2016, dia 2, mas segue entre os dias 3 e 5, com apresentação de propostas para ampliar o poder do COI. Ao seja: discute-se movimento olímpico, olimpismo e juventude, etc, após se escolher uma sede olímpica. Discute-se depois, uma forma de se atrair público. Vamos ver se seus membros, dessa vez, vão optar por um investimento não só econômico, mas também social. Só assim, o Rio terá chances.