Arquivo do mês: agosto 2009

Boa fonte

Não custa comentar, apesar de tardio:

O Globo de sábado, na versão impressa, deu nota na coluna Panorama Esportivo que intriga os defensores do Rio, na disputa pela sede de 2016. Novamente, a Fifa vira a fiel da balança, ainda com uma participação ambígua, dentro do processo olímpica. Eis a nota, na íntegra:

Olhos atentos para 2016

A FIFA acompanha com interesse a eleição da sede das Olimpíadas-2016. Não apenas porque, no caso de o Rio ser eleito, significar impacto na organização da Copa do Mundo-2014, marcada para o Brasil.

Boa fonte da entidade elogia o trabalho feito pela candidatura carioca nos últimos meses, mas há o entendimento, na FIFA, de que, se o presidente americano Barack Obama comparecer à Assembléia Geral do Comitê Olímpico Internacional (COI), em Copenhague, no dia 2 de outubro, Chicago ganhará a disputa com sobras, até de goleada.

Outro ponto que chama a atenção da FIFA é a antecipação da negociação de venda de direitos de TV para o Brasil. Se o Rio não vencer daqui a um mês, será que o preço chegaria aos US$ 165 milhões acertados esta semana?

Quer dizer o seguinte:

Antes, o fator Obama era preponderante, na “análise” dos cartolas da FIFA. O presidente norte-americano realmente faz os olhos do chefe Joseph Blatter brilharem, como se viu no encontro dos dois, no meio do ano, a despeito do interesse maior do líder global em sediar a Copa de 2018. Mas com relação à FIFA, ficam várias mensagens no ar: uma delas, a incrível guerra de egos que atinge os presidentes Nuzman (COB e Co-Rio) e Ricardo Teixeira (CBF). Eles estão cada vez mais distantes, o que tornou a aproximação de João Havelange e a campanha por 2016, uma realidade mais cristalina. O que temos de concreto, portanto, é a sólida amizade do velho cartola e Blatter, eleito pelas mãos do brasileiro, como se sabe.

O atual presidente da Fifa vota no COI e também o vice dessa federação, Issa Hayatou, o camaronês, organizador da Copa da África do Sul, e o membro do comitê que define o futebol olímpico. Blatter é cria do Havelange e foi braço direito do brasileiro durante os anos de crescimento da federação mais rica do mundo esportivo.

Tinha dito em post anterior (aqui) sobre a participação de um na difícil eleição de outro. Mas, se a nota do Globo serviu para alimentar a especulação, foi somente no sentido de que não há qualquer informação de conspiração dentro da FIFA para derrubar a campanha do Rio, baseado na tese de que um evento esvaziaria o outro. Se não são contra, não encampam a birra de Teixeira. Daí, Blatter pode retribuir toda a lealdade de Havelange (de décadas) ou se deslumbrar com a presença de Obama, caso ocorra.

No fim, fica o contrapeso das opiniões da “boa fonte” do Globo: a venda dos direitos de TV, para os negociadores do esporte com TVs do mundo todo, foi um sinal claro do avanço do Rio. Os interlocutores da FIFA vêm o negócio com Globo, Band e Record tendo sido fechado somente com uma aparente sinalização de que a cidade brasileira vencerá no 2 de outubro.

Nos bastidores da notícia

A Folha deu hoje, em sua versão impressa (reproduzida abaixo), meia página para esclarecer todas as contas do Co-Rio.

O diário ainda não sabe muito bem o que fazer para cobrir a reta final da escolha da sede dos Jogos e tem partido para o básico. A pauta, definitivamente, não é quente. Os blogs (notadamente, o novo canal do José Cruz, no UOL, que é excelente) e fóruns da net estão muito à frente das questões que o jornal tem levantado, aqui e alí. Os números da campanha são sempre bem-vindos, mas já sabíamos que o governo federal tinha destinado, em 2008, mais de R$ 80 milhões para a campanha.

Mas, aí, a Folha vem dizer que já foram gastos R$ 52,5 milhões , com recursos federais e que as despesas não devem atingir a previsão do ano passado. Ainda assim, o jornal manchetou o estouro de 36% nas contas, vitaminadas pela iniciativa privada, porque o presidente Nuzman tinha dito que o orçamento ia ficar US$ 42 milhões – R$ 73 milhões na cotação da época.

Ok. O Co-Rio respondeu que, com a entrada de dinheiro privado, a campanha foi encrementada.

Se quisesse contribuir, a Folha poderia pautar os bastidores da escolha de uma cidade-sede dos Jogos. Mas, nessa altura, somente o Jamil Chade, correspondente em Genebra para o Estadão, é capaz de dizer algo realmente interessante, como o fez em uma ocasião destacada por este blog (aqui).

Pois, a notícia mais relevante da meia página gasta pela Folha, foi a revelação de que o Co-Rio contratou a consultoria de Michael Payne que, durante 21 anos, entre 1983 e 2004, chefiou o marketing do COI.

Michael Payne é autor do livro “A Virada Olímpica”, da Casa da Palavra, publicado com o patrocínio do COB e com prefácio do presidente Nuzman, que diz ser amigo do importante ex-diretor do COI.

Payne, diz a Folha (no finalzinho do texto principal), foi contratado para fazer lobby e o faz com o uniforme cheio de medalhas de honra, pelos serviços prestados ao chamado Movimento Olímpico, pelo que consta em seu histórico. Braço direito de Saramanch, o inglês teria sido delineador de toda a nova marca olímpica, muito mais poderosa hoje que no período antecedente.

Já falei de Michael Payne neste blog (aqui) e com essa informação de bastidor, em meio às investigações da Folha, pode-se deduzir que o trabalho de bastidor está sendo muito bem feito.

Segue o material da Folha:

Rio-16 já registra estouro de 36%

Comitê da candidatura usa verba privada para ampliar seus gastos, que já chegam a R$ 101 milhões

Custo público será reduzido, mas governo ainda bancará maior parte da postulação olímpica, cujo destino será definido em 2 de outubro

RODRIGO MATTOS

DA REPORTAGEM LOCAL

O comitê Rio-2016 estourou seu orçamento inicial e atingiu cerca de R$ 101 milhões em despesas até agora. O inchaço dos custos foi possível graças ao dinheiro de empresas. Com mais verba, a entidade decidiu aumentar gastos e reduziu pouco o desembolso público.

O crescimento dos dispêndios do comitê chega a 36% sobre o valor anunciado em janeiro do ano passado, quando foi lançado o plano inicial.

Na ocasião, o presidente do comitê, Carlos Arthur Nuzman, disse que a candidatura custaria US$ 42 milhões. Pela cotação do dólar à época, isso significaria R$ 73,7 milhões. É verdade que, com a subida da moeda americana, esse custo seria de R$ 77,4 milhões hoje.

Os custos totais, entretanto, ultrapassam bastante esse montante, como revelam informações do próprio comitê.

Até agora o governo federal assinou convênios para repassar R$ 56,5 milhões ao Rio- -2016 -faltam R$ 4 milhões a serem pagos desse total. Os governos estadual e municipal do Rio deram R$ 8,6 milhões.

O dinheiro da União foi gasto em itens como consultorias internacionais e nacionais, todas contratadas sem licitação. Também pagou salários de funcionários do comitê -cerca de 50 ao final do ano passado. E custeou viagens de cartolas estrangeiros para o Brasil.

No total, hoje, a fatia pública na candidatura Rio-16 ficaria em torno de R$ 64 milhões, já que o comitê promete devolver R$ 1,25 milhão aos cofres públicos por sobras de convênios.

Só que, em 2009, a candidatura passou a atrair parceiros privados: EBX, Bradesco, Odebrecht, TAM e Embratel. A contribuição dessas cinco empresas atingiu R$ 37 milhões -só a EBX, de propriedade do milionário Eike Batista, deu mais da metade desse valor.

Em vez de aumentar a devolução de dinheiro ao governo federal, a Rio-16 abriu mais seu cofre e aumentou suas despesas, que, por enquanto, serão de R$ 100,8 milhões.

“Esses recursos contribuíram para reforçar a qualidade do projeto técnico do dossiê e estão viabilizando novas ações estratégicas de campanha e de marketing e relacionamento do Rio-2016 em todo o mundo, fazendo frente ao acirramento da disputa que se verifica nos últimos meses”, explicou a assessoria do comitê carioca.

O Rio concorre com Tóquio, Madri e Chicago à Olimpíada de 2016. A sede será anunciada em 2 de outubro, em Copenhague (Suíça). Cerca de cem membros do Comitê Olímpico Internacional farão a escolha.

Para chegar até lá, só com o dossiê o Rio-2016 tinha gasto R$ 14 milhões com verba do governo, todo o dinheiro dado à empresa suíça EKS (Events Knowledge Services). Ainda contratou o lobista Micheal Payne, ex-diretor do COI.

Recentemente, os cartolas do comitê Rio-2016 têm ido à maioria dos eventos em que há dirigentes do COI, como assembleias e torneios mundiais.

Fora as despesas do comitê, a União fez investimentos diretos à Rio-16 de R$ 24,7 milhões.

E a conta não fechou. O Ministério do Esporte avalia se haverá necessidade de novos convênios para repasses ao comitê. E não tem certeza sobre o valor final de seu desembolso.

Campanha se norteia por viagens

DA REPORTAGEM LOCAL

A campanha olímpica do Rio de Janeiro virou uma maratona aérea para cartolas do comitê Rio-2016 e para o ministro do Esporte, Orlando Silva Jr.

O patrocínio da TAM à postulação se deu por meio de permuta em passagens aéreas. Foi um total de R$ 4,5 milhões a ser gasto com esse item, segundo o comitê.

Instrução normativa do COB prevê que seus dirigentes, em viagens ao exterior acima de oito horas, têm que viajar de classe executiva. Não se sabe se as regras valem para o comitê. Cartolas estiveram em países europeus, africanos e da América do Norte na campanha.

O ministro do Esporte os acompanhou em algumas delas. Segundo a pasta, Silva Jr. fez cinco viagens ao exterior para reforçar a postulação carioca aos Jogos. Ele esteve em Atenas (Grécia), Acapulco (México), Denver (EUA), Lausanne (Suíça) e Abuja (Nigéria). Foi a assembleias do COI e eventos da concorrência olímpica.

Todas as viagens não foram incluídas nos investimentos diretos e indiretos feitos pelo governo federal na candidatura do Rio, pois são contabilizados em outro item do orçamento do ministério. (RM)

Dinheiro privado serve para ações não contempladas, justifica comitê

DA REPORTAGEM LOCAL

O comitê Rio-2016 e o Ministério do Esporte afirmaram que caiu o investimento público na postulação olímpica. Alegam que foram os recursos privados que permitiram essa redução dos custos do governo federal.

“O uso de verbas públicas na candidatura está abaixo do previsto inicialmente”, disse a assessoria do Rio-2016. “Dos R$ 85 milhões aprovados em 2008 pelo Congresso para a candidatura, o comitê Rio-2016 conveniou R$ 56.472.474,52 com o Ministério do Esporte e recebeu R$ 52.497.690,64, restando R$ 3.974.783,88 a receber.”

Para o Ministério do Esporte, “a expectativa é que a participação da União não atinja o valor integral previsto”.

Estava estipulado que o governo federal bancaria todo o orçamento do comitê. A pasta diz que trabalhava com total de R$ 80 milhões como orçamento da candidatura Rio-2016, em razão da conversão dos US$ 42 milhões divulgados em 2008.

A assessoria da candidatura carioca afirmou que irá retornar parte do dinheiro recebido aos cofres públicos. “Serão devolvidos ao governo federal os valores que sobrarem da execução dos planos de trabalho, que até o momento, somados, chegam a R$ 1,25 milhão.”

Ressaltou ainda que o dinheiro privado serviu para ações que não eram contempladas nos convênios com a União.

O ministério ainda não tem uma conta final de seu investimento direto e indireto na candidatura olímpica, hoje em R$ 80 milhões. O presidente Lula tinha aprovado desembolsos de até R$ 85 milhões em 2008, incluídos investimentos diretos do Ministério do Esporte. (RM)

210 milhões de dólares

(COM POSPOST, AO FIM)

O COI acaba de anunciar a venda dos direitos de transmissão dos Jogos de 2014 e 2016 para o Brasil (aqui, o release, em inglês). Ficou como foi antecipado pela mídia. A Globo venceu a disputa, mas não pediu exclusividade, na TV aberta, tendo se associado à Bandeirantes. A Record também está confirmada, com os direitos de TV aberta. TV fechada e outras mídias (rádio e web) ficaram com a Globo, em exclusividade.

A Associated Press acaba de informar (aqui, na reprodução do USA Today) que o negócio conjunto rendeu 210 milhões de dólares para “Movimento Olímpico”. O despacho ainda mostra que o Co-Rio irá se aproveitar do anúncio, mostrando como é evidente a força econômica brasileira. O salto do último negócio, fechado pela Record, de 60 milhões de dólares por 2010 e 2012, para 3,5 vezes mais, comprovaria o fôlego do Brasil e deixou o COI com os olhos brilhando.

O presidente do COI, Jacques Rogge, limitou-se a dizer, no release da entidade, o que segue:

“Este é um importante anúncio, não só pelo COI, mas pelo Movimento Olímpico, como um todo. Os brasileiros poderão aproveitar de uma cobertura sem precedentes dos Jogos Olímpicos em 2014 e 2016. O acordo também representa um aumento importante na receita do Movimento Olímpico, que será redistribuído para ajudar a desenvolver e promover esportes olímpicos em torno do mundo.”

Mas o release segue com palavras mais importantes do membro do COI, Richard Carrión, o porto-riquenho que tem se confrontado com o comitê olímpico norte-americano, o Usoc (que pretendia lançar um canal pago de esportes olímpicos e minar o contrato da NBC).

Carrión, que conduziu a negociação com os brasileiros, deixou claro a satisfação, com um agradecimento “pessoal”, na seguinte declaração:

“Esse é um anúncio sem precedentes e eu gostaria de agradecer, pessoalmente, a todas as partes envolvidas na negociação. Trabalhando com as principais organizações de mídia do Brasil, nós estamos confiantes que isso representa um grande negócio para os fãs olímpicos, na região. Haverá um grande aumento na quantidade de transmissão da ação olímpica, durante e fora do período dos Jogos. Os brasileiros terão mais opções de escolher como, quando e onde acompanhar as Olímpiadas.”

Roberto Irineu Marinho, poderoso da Globo, falou de “inovação”, ao não exigir exclusividade. João Carlos Saad falou, pela Band, da longa parceria com o COI. Alexandre Raposo, presidente da Record, reafirmou o compromisso da sua rede de apoiar o Movimento Olímpico.

Óbvio, o teor do documento não foi conhecido, sem que soubéssemos de valores e exigências contratuais, como a quantidade de horas no ar etc.

Pospost: O despacho da AP começa a ecoar forte. Em espanhol, a Univision (canal norte-americano que transmite os Jogos) acrescentou outros trechos da nota da agência, não reproduzidos pelo USA Today. O detalhe maior (aqui) fica por conta da matemática financeira da proposta conjunta das redes: serão pagos 170 milhões de dólares pelos direitos de TV e mais 40 milhões pelos “pacotes promocionais”. Além disso, veio toda a declaração do Carlos Osório, número 2 da campanha do Rio: “Esse é um dia muito positivo para o Rio. Durante a crise econômica (mundial), o Brasil foi o único país que pôde apresentar uma proposta, assim, de força. Demonstra que a economia é muito estável”.

A batalha de agosto

Como disse, a repercussão sobre os direitos de transmissão, no Brasil, dos Jogos de 2016, permanecerá por dias. Radar Online, hoje, colocou os pingos nos is, e refinou sua nota inicial, com as informações mais precisas (abaixo).

Na Folha, o Edurado Ohata, no caderno Esportes, foi além, nos bastidores, para dizer (aqui, na distribuição da Folhapress, em mesmo material publicado no impresso) que, para a Record, “a divisão dos direitos entre várias TVs abertas, repetindo o que ocorrera no Pan do Rio, há dois anos, é visto como indicação de que a candidatura carioca à Olimpíada de 2016 será bem-sucedida”.

Outra revelação importante do Ohata: “Enquanto, nas últimas semanas, Globo e Record veiculavam em suas programações pesadas denúncias uma contra a outra, duas rodadas de negociações ocorreram com o COI.”

Como havia especulado antes, o bate-boca entre Globo e Record teria muito a ver com o a disputa na mesa do COI. Os ataques até diminuíram, encerrando a batalha de agosto, após o leilão dos direitos terminar.

O Globo não disse vírgula, sobre o assunto, direcionando a pauta da edição de hoje para a disparada dos votos dos internautas brasileiros, na enquete do GamesBids.com (aqui, na mesma matéria que foi impressa). E essa, já sabíamos que seria fácil de vencer, porque brasileiro não perde em votações online.

Jornal do Brasil e O Dia nada disseram.

Lauro Jardim, no blog Radar Online, da Veja (aqui), sintetizou melhor o embate de agosto, hoje, em duas notas:

O Terra sobrou… | 11:12

Com a divisão dos direitos de transmissão das Olimpíadas de 2016 entre Globo, Record e Band, o único interessado no evento que ficou de fora foi o portal Terra. O Terra havia surpreendido o mercado ao apresentar ao COI uma proposta que previa até a exclusividade na transmissão de televisão aberta. Mas, no fim, não levou nada. Os direitos de transmissão por internet, celular e televisão paga ficaram com o consórcio Globo-Band.

…e o COI faturou | 11:11

E o maior vencedor nesta disputa foi o COI. Com a aceitação da alta proposta feita pelo consórcio Globo-Band, que não previa exclusividade, o comitê olímpico ficou com a Record na mão. Ou ela aceitava dividir a transmissão – dando mais um bom montante de dinheiro para os cofres da entidade – ou saía como derrotada na disputa. Aceitou dividir.

Globo 2016

Furo do Radar Online, blog da Veja.com, assinado pelo Lauro Jardim (aqui, para que não reste dúvidas):

Televisão

Globo garante Olimpíada de 2016 | 14:01

A Rede Globo se associou com a Band e venceu a disputa pelos direitos de exibição das Olimpíadas de 2016, que poderão ser no Rio de Janeiro. Atualmente, essa era a disputa mais importante entre a Globo e a Rede Record, que havia garantido a exibição dos jogos de 2012.

A nota do Radar, publicada há meia hora, tem proporções inimagináveis. A repercussão virá por dias e as duas emissoras devem se associar, a partir de agora, com uma mobilização global (daí, até que a gente confirme a verdadeira força da Globo), à campanha do Rio de Janeiro pelos Jogos de 2016. Isso porque uma Olímpiada na casa da Platinada, valerá infinitamente mais.

A candidatura do Rio toma novos rumos.

Pospost: Lauro Jardim acaba de alterar o teor da nota original, descrita acima. Então, fica assim:

Globo, Record e Band transmitirão os Jogos | 15:13

Os Jogos de 2016, que poderão ser no Rio de Janeiro, serão transmitidos pela Globo, pela Record e pela Band. O Comitê Olímpico Internacional decidiu não concentrar a exibição na mão de uma só emissora, pondo fim à disputa pela exclusividade da transmissão entre a Globo e a TV Record, que dois anos atrás garantiu o direito de exibir sozinha os jogos de 2012.

A proposta da Globo e da Band foi feita em conjunto e não pedia a exclusividade ao Comitê Olímpico Internacional. A Record apresentou sua proposta separadamente e também foi aceita.

Denver e Berlim

Em Denver

A Sportaccord, a convenção anual sobre esportes, criou ontem seu canal de comunicação no Youtube. E o resultado disso é que podemos ver, pela primeira, as apresentações das cidades candidatas a sede dos Jogos de 2016, ocorridas em março, em Denver, no momento em que o Rio iniciou sua arrancada para tentar vencer essa corrida.

Nos fóruns de discussão, ficou claro a vantagem da apresentação do Rio, muito baseada na viemência de seus oradores. Aliás, todos estão bem, no parlatório. Seguem os quatro vídeos, sendo que o filme brasileiro foi o mais visto, em um dia de exposição:

Exposição do Rio

Exposição de Madri

Exposição de Chicago

Exposição de Tóquio

Em Berlim

Ao mesmo tempo, os foristas já disponibilizam na net, notadamente, no fórum do GamesBids.com, as imagens dos estandes instalados no páteo externo do Estádio Olímpico, durante o Mundial de Atletismo, concluído no domingo. Na discussão de quem se saiu melhor, entre os internautas que estiveram em Berlim, Chicago foi mais informativo e objetivo, enquanto é visível que o Rio montou o melhor arsenal.

Chicago


Madrid


Rio



Tokyo

A voz do povo

A cidade de Chicago tem 50 vereadores, cada um deles representante por uma área específicas (chamadas de ward, que seriam departamentos). Nesta terça-feira (25), o comitê olímpico da cidade norte-americana, adversária do Rio, realiza as últimas reuniões que estão sendo promovidas para esclarecer pontos do projeto para o cidadão comum.

E esse cidadão comum está botando lenha no fogarel de Chicago, às vesperas da decisão de Copenhague. Quanto mais se provoca os membros do comitê e quanto mais se revela os números da campanha olímpica, mais detratores a proposta norte-americana ganha no seu próprio terreiro.

As reuniões nessas áreas administrativas de Chicago tem gerado muitas polêmicas e, com a crescente discussão, principalmente relacionada ao orçamento da proposta e às garantias necessárias, o tempo passou a ser outro inimigo dos organizadores norte-americanos. O cidadão tem mandado o recado mais duro: eles não dar apoio para as contas da prefeitura com a pressa que está sendo imposta e questiona a razão dessa espécie de prestação de contas com a sociedade só vir a acontecer tão no limite da eleição de 2 de outubro. E perguntam porque essa discussão não começou antes.

E nada tem funcionado na estratégia de divulgação de Chicago que, por último, apresentou o volume de recursos que a cidade garantiria se fosse escolhida sede dos Jogos de 2016. O comitê fala em 22,5 bilhões de dólares de dinheiro que circularia nesse evento. O economista Victor Matheson, ouvido pelo Chicago Business (aqui, em inglês), disse que os números projetados nos encontros com as comunidades, na tentativa desesperada de garantir a aprovação popular ao projeto, tem “induzido ao erro” (tradução livre para “down the garden path”) esses eleitores. A estimativa do entrevistado é bem mais conservadora, baseado no balanço de outros eventos desse porte. Em Atlanta (Jogos de 1996), a movimentação econômica não passou de 7 bilhões de doláres. A previsão de 315 mil novos postos também é “loucura”, nas palavras do economista, o que seria quatro vezes maior que os empregos gerados pelos Jogos de 1996.

As reuniões com representantes do Conselho Municipal têm sido levada a sério pelos membros do comitê de Chicago, com participação dos líderes da campanha. No próximo mês, os vereadores votam a aprovação das garantias necessárias do poder público, no caso, a cidade de Chicago, para a realização dos Jogos. A estimativa do prefeito Daley é de que o evento custe 4,8 bilhões de dólares. O Conselho só aprovou o fundo de 500 milhões, até o momento.

Os números do impacto econômico seriam a maior aposta do Co-Chicago e o bombardeio final, nos últimos encontros com os chicagoans está tirando o sono do prefeito Daley, democrata. No Conselho, são 49 representantes do seu partido e só uma voz republicana, mas nem por isso tem sido fácil conseguir as assinaturas necessárias.

O Chicago Tribune de hoje (aqui, em inglês) também mostra a repercussão dos encontros nesses departamentos representativos, ou nas principais zonas, próximas aos locais definidos para as instalações olímpicas. O diário nem vê preocupação dos membros do Comitê e das autoridades envolvidas.

Os debates têm sido acalorados. Todas as questões nebulosas estão vindo a tona, como os negócios paralelos de membros da campanha, com imóveis vizinhos aos pontos de instalações da proposta de Chicago. Mas para o produtor do GamesBids.com, ouvido pelo Tribune, vê toda essa correria de forma pragmática. Tudo seria um jogo de cena.

Diz o Tribune: “Até agora, os tipos de perguntas levantadas nas reuniões de departamentos não são nada novas para o COI. Os membros do Comitê estão acostumados com dissidências locais e com transações dos bens imobiliários pelos representantes das campanhas que resulta nessas perguntas sobre o conflito de interesses, disse Robert Livingstone, do GamesBids”.

A prefeita de Atlanta, Shirley Franklin, também vem em defesa da candidatura de Chicago, com depoimento exibido em vídeo, durante os encontros. “Vocês estão questionando se existe um lado negativo? A resposta é não, absolutamente?”, pondera.

O vereador do 49º departamento tenta antecipar decisão do Conselho, no Tribune: Daley “terá o que ele quiser”, diz Joe Moore. “A questão é: quantos votarão contra?”, expecula.

Para observadores ouvidos pelo Tribune, os dissidentes atrapalhariam Chicago se houvesse um escândalo de maiores proporções ou a reprovação do Conselho para a proposta do prefeito Daley. “E uma rejeição do Conselho é vista como altamente improvável”, emenda a reportagem.

Celebridades

“Sinta-se livre para procurar pelas seguintes personalidades, no Google” (sugere, ironicamente, a NBC de Chicago):

Steve Dahl
Lovie Smith
Jay Cutler
Garry Meier
Jonathan Brandmeier
Ozzie Guillen

Tudo perda de tempo, tal busca! Porque não interessa ao Rio saber quem é o primeiro treinado dos Bears, o time de futebol americano de Chicago. Pois esse senhor é um dos convidados para participar do vídeo de celebridades que apoíam a cidade norte-americana, a ser exibido em 2 de outubro.

Seguido o script das candidaturas anteriores (o que não deve mudar muito), as apresentações de 2 de outubro, em Copenhague, terão espaço para discursos, em formato de termos de compromisso, entrecortados por alguns vídeos.

As apresentações são longas. No dia 2, o programa reserva oito horas somente para as candidaturas mostrarem serviço (das 9h às 17h). O anúncio da vencedora está marcado para as 18h30 (hora local – 14h30 em Brasília), no salão do Bella Center (programação oficial, aqui).

O COI não tem definido o tempo de apresentação, ainda. Na escolha da sede de 2012, as candidatas falaram por uma hora. E exibiram muitos vídeos, fechando com o tradicional todos nas ruas clamando pelos Jogos.

Pelas notícias da NBC (aqui, em inglês), com a ironia da caça às celebridades de Chicago, o comitê já marcou até a data de gravação, com o chamado para multidão, no Millennium Park, no próximo dia 26, uma quarta-feira gorda. Os favoráveis à candidatura vão “desenhar” um 2016, no gramado.

Na disputa por 2012, só se via esses gritos de “I love”. Tudo lindo e publicitário. Se Chicago tem procurado celebridades locais, parece que o Rio vai atrás de brasileiros de todas as partes e já se ouviu muito em Giseles, Pelés e Massas. Mas o conteúdo dos vídeos, que tem tanto emocionado os eleitores, virou mesmo segredo de guerra.

O legado de Rogge

Mais um despacho da agência AFP (aqui, em inglês) favorável ao Rio, o mais otimista até o momento. A reportagem sai dizendo no título que a campanha brasileira “ganha impulso”.

O informe ecoa por sites importantes, o que inclui uma reprodução pelo GamesBids, com destaque para as impressões de uma fonte ouvida pela AFP, “próxima ao COI”.

O avanço do Rio, segunda a agência, começou em um encontro do Comitê Olímpico Europeu, em novembro passado, onde o presidente do Co-Rio, Carlos Nuzman, fez uma apresentação “passional e eficiente”. O sucesso da candidatura também é creditada ao presidente Lula e ao momento econômico do país. Segundo a mesma fonte, enquanto os brasileiro avançam, Chicago “está perdendo chão”.

 A explicação do entrevistado é uma razão pouco debatida pelos especialistas em campanhas olímpicas: Jacques Rogge deixará a Presidência do COI, em 2013, e “o que ele realmente quer é deixar um legado”. A aposta em Pequim e seus resultados positivos animaram o belga que pretende repetir a proposta de conceder os Jogos a um país emergente.

Rogge ganhou pontos com o sucesso da China, em 2008, após um período de descrédito total. O Rio seria sua última aposta na expansão do movimento olímpico, atingindo países impensáveis, anos atrás. O presidente também aposta nos Jogos da Juventude que, no caso, não contam com o mesmo otimismo dos críticos, ao contrário do processo olímpico, em países em desenvolvimento.

Se Rogge busca uma marca social, uma pose de prêmio Nobel, precisa sair dos castelos europeus e encarar a censura chinesa, a fome africana, a violência carioca…

“Sinceridade olímpica”

Com o favoritismo do início da corrida por 2016, Chicago começou a apanhar da imprensa bem antes, o que culmina com o editorial dessa quarta-feira do Chicago Tribune (aqui, em inglês). Daqui a pouco será a vez do Rio, sendo que a grande mídia brasileira ainda não destacou o suficiente, com os quase 40 dias para a eleição do COI. Mas já se pode perceber como irão se comportar alguns grandes.

Nesta semana, o UOL lançou o Blog do José Cruz (aqui), que já disparou uma sequência de informações, vestidas de denúncia, com números dos gastos do governo com a campanha do Co-Rio (com aplausos de Juca Kfouri e Murray, o advogado). Serão 120 milhões de reais, ao final do processo de seleção, segundo o blogueiro. E ele assume sempre que será o fiscal do contribuinte, em Brasília, para se saber o que está sendo feito do nosso dinheiro.

Com o crescimento do Rio, a ESPN também sai da toca, com pose de Globo, infernizando seu Edir Macedo, no caso, o presidente Nuzman. O velho e bom José Inácio Werneck, em seu blog (aqui), vai fundo para defender o nosso dinheiro, também, e versa essa bomba: “Se o COI quiser nos fazer um grande bem, escolherá qualquer outra cidade, menos o Rio”.

Vem aí, uma fase de ataques pesados, para todos os lados. Chicago, Rio e Madri (que tem o seu Marca, para atrapalhar) já sofrem com as pauladas.

Mas no edital do Tribune, que é denso e sempre circunstancial, se vê todo o trabalho de apuração de meses daquela redação (sem que tenham caído de paraquedas no fim da disputa), onde vemos as razões mais fortes e legítimas para se cobrar transparência de uma candidatura.

O Tribune marca os pontos fracos de Chicago, tudo ligado a falta de clareza da campanha, como a questão do seguro, da entrega adiada do formulário de isenções fiscais, do envolvimento de um membro do Comitê com empresas donas de imóveis que circundam áreas olímpicas, dentre outros.

É ponto para a verdade, um quesito não previsto, mas que certamente será avaliado.