Rupert Murdoch, com 6,8 bilhões de dólares na conta bancária (de acordo com a Forbes), embaralha o processo de escolha da sede olímpica de 2016, na reta final, acentuando a força econômica de Chicago. A carta mais forte nas mãos dos norte-americanos, não é o corpo-a-corpo de seu presidente e sim a aproximação dos bilionários do top 400 da Forbes.
Alguns desses ricos dessa lista quase subjetiva e que vivem num Panteão mais alto que o nível atingido pelos membros do COI são entidades da mídia global, gente que escolhe presidente, sem precisar votar. Pois, se o COI pensar com o bolso, apenas, fica difícil alguém tirar a Olímpiada de 2016 de Chicago.
A tese partiu das poucas palavras ditas pelos principais players da TV americana, que um dia batalharam pelos direitos dos Jogos, em um evento de mídia, ocorrido em Nova York, nesta semana.
Murdoch, o australiano com toda pinta de Crocodilo Dundee (e sua aproximação com os republicanos a comprova), mandão da Fox e subsidiárias, saiu dizendo que os Jogos não o interessa e que voltaria a pensar no assunto só se Chicago for escolhida sede.
Poucas palavras, mas com uma carga dramática que até encobre um pouco o vai-não-vai de Obama. Blogueiro da Reuters acredita que os executivos donos dessa dinheirama toda vão continuar subvalorizando a marca olímpica, até a definição de Copenhague. O Media Daily News até antevê um grande embate entre a atual detentora dos direitos de transmissão, a NBC (que tem 2010 e 12), e o grupo Disney, que tem ABC e a ESPN, no catálogo. A Olímpiada poderia modar de mãos, 20 anos depois.
Mas o problema maior, veio com a chantagem de Murdoch, uma personalidade que sempre levou polêmica para as salas de reunião do COI. Michael Payne, conta em seu “Virada Olímpica” a grande decepção do australiano que, talvez, possa justificar seu distanciamento seguinte.
O registro de Payne mostra como a ambição de Murdoch teve seu auge, na definição dos detentores de direitos de transmissão dos Jogos de 2000, justamente em Sidney, na sua Austrália natal. O plano de um dos homens de mídia mais conhecido era o de garantir o direito de TV para todo o mundo, num só pacote, por 1 bilhão de dólares. E Samaranch balançou.
Murdoch negociava, pessoalmente, com a cúpula do COI, mas Samaranch não quis decidir sozinho. Dick Pound foi chamado e levou a proposta para a NBC que deu o lance mais certeiro de todas as licitações olímpicas acompanhadas por Payne. Dick Ebersol, mago da rede que ainda transmite Olímpiada até hoje, foi chamada para apresentar a proposta e o lance chegou aos 1,25 bilhão de dólares, com um diferencial: além de Sidney, a NBC também levou Salt Lake City, os primeiros jogos de inverno transmitidos pela emissora.
A jogada de Ebersol e cia. desmotivou, para todo sempre, não só a volúpia de Murdoch, mas também a própria CBS, que fez fama com a transmissão de Olímpiada de Inverno.
Depois disso, os pacotes viraram carta do jogo licitatório do COI. A NBC, e a visão única de Ebersol, aproveitou a aproximação com os cartolas, naquele meado de 1995, e alimentaram uma idéia que parecia sonho: porque não negociar os três jogos seguintes – 2004,2006 e 2008, sem que as sedes ainda tivessem sido escolhidas?
“Em dezembro de 1995 foi anunciado o maior acordo de transmissão por uma rede de TV na história esportiva (na época), com a NBC pagando 2,3 bilhões de dólares para os três jogos seguintes [ao de Salt Lake City]. Em menos de cinco meses, a NBC havia comprometido mais de 3,5 bilhões de dólares em honorários por direitos olímpicos. A cara do mercado olímpico para a TV havia mudado para sempre. As outras redes estavam atônitas.”