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O voto de Pound

Richard Pound, ou Dick Pound, canadense, membro do COI desde 78, figura proeminente na transformação dos Jogos, nas duas décadas de gestão de Juan Antonio Samaranch, apesar disso, tendo sido preterido pelo seu ex-chefe, na sucessão de 2001, quando Jacques Rogge assumiu a entidade, Dick fala demais.

Na edição de 2006, Michael Payne, diretor de marketing do COI, escreveu em seu livro, “A Virada Olímpica” (Casa da Palavra):

“A revitalização dos Jogos Olímpicos foi um esforço de equipe. Ela envolveu muitos executivos e milhares de voluntários. Os dois personagens mais influentes foram Juan Antonio Samaranch e Dick Pound. Saramanch foi presidente do COI de 1980 a 2001, proporcionando inspiração e visão capazes de levar o Movimento Olímpico até sua posição atual. Pound foi membro canadense do COI [sic] e como vice-presidente do COI e presidente da Comissão de Marketing e da Comissão de Negociações para a TV, ofereceu o rumo político e os conselhos jurídicos que orientaram os planos comerciais. Devemos recordar que Samaranch e Pound, como todos os membros do COI, também eram voluntários não-assalariados, dedicados à causa olímpica.”

Era Pound que se trancava com os medalhões da TV mundial para negociar os direitos de transmissão, por duas décadas. Foi ele que viu essas cifras ultrapassarem o bilhão de dólares e tirou o vermelho das contas do COI. O canadense trabalhou em conjunto com as redes norte-americana (notadamente, a NBC, após ABC ter colaborado com Los Angeles-84), essencialmente, para promover essas mudanças e parece dever muito a esse pessoal da televisão. Em 93, quando da escolha da sede da rede norte-americana que iria transmitir Atlanta-96, Pound chefiou o processo mais emblemático desse tipo de seleção, que se confirmou a mais rentável, por anos.

A TV americana manda. Na ocasião, Dick Ebersol, da NBC, provou ser o melhor jogador de todos os tempos, nessa seara do marketing olímpico. O executivo traçou os recordes de audiência de Atlanta, mas teve que atuar nos bastidores para encobrir as falhas que deram a péssima fama aos últimos Jogos de Verão dos EUA.

Veja esse trecho sensacional do livro de Payne:

“Atlanta foi o evento mais assistido na história das transmissões de TV americanas, com Ebersol mantendo um controle cerrado sobre a produção. Muitos norte-americanos questionaram, depois, porque o resto do mundo havia sido tão negativo em seus comentários em relação aos Jogos Olímpicos de Atlanta, já que tinham assistido a um evento fabuloso pela NBC. Eles assistiram.”

“Contudo, Ebersol estava tão decepcionado com o que a cidade de Atlanta fizera, destruindo a imagem e a magia dos Jogos Olímicos ao permitir que o centro da cidade se transformasse em uma frenética agitação comercial, que minimizou a exposição da cidade. Segundo alguns, ele disse a seus produtores e câmeras que a primeira pessoa que produzisse um segmento qualquer mostrando o centro de Atlanta seria despedida no ato.”

A novela criada por Ebersol para o pé machucado da ginasta norte-americana que saltou no cavalo e ganhou o ouro, em Atlanta, também é um divisor de águas nas transmissões e no emblema olímpico. O drama tomou conta das transmissões, em cada evento esportivo, desde então, numa embalagem hollywoodiana que ninguém no mundo consegue copiar.

Ainda que salte de Pound para falar de Ebersol, que ainda está a frente das transmissões da NBC para 2010 e 2012, o propósito, aqui, é revelar a promiscuidade do canadense com o time da TV dos EUA e quanto o membro do COI tem uma visão direcionada de marketing esportivo. Pois, Pound sempre volta a tona, para defender Chicago e os norte-americanos.

Então, fica a questão: o canadense especula ou tem mesmo o ponto de vista mais translúcido dos membros que falam, no COI?

Pound tem sido a salvação das agências de notícia, nas especulações sobre o processo de escolha da sede de 2016. A agência AP, despachou ontem, com reprodução da Abril.com, mais uma entrevista com o canadense. Ele vê um prejuízo, na ausência de Obama, para a candidatura de Chicago. “Ele é uma figura transformacional no mundo hoje. Se você tem um líder popular e não o usar, não está maximizando suas chances. Se ele puder ser persuadido a ir, faria uma diferença enorme”, apontou.

Pound, que presidiu a Agência Mundial de Antidopagem (Wada, em inglês) até o ano passado, gosta de se manter em evidência, talvez para sustentar uma missão pessoal próxima de ser atingida: a de chegar à Presidência do COI.

Reeleito, em Copenhague, Jacques Rogge, só poderá continuar sendo presidente do COI até 2013, abrindo as portas para um novo líder. O canadense já tentou essa vaga, em 2001, quando ganhou um desafeto, na Executiva do comitê. Viu armação do então presidente Samaranch para eleger o belga.

Pound perdeu feio, na ocasião, ficando em terceiro, atrás de Rogge (59 votos), do sul-coreano Un-Yong (23), tendo atingido os 22 votos, na segunda rodada, a frente do húngaro Pál Schmitt (seis). A norte-americana Anita Defrantz foi eliminada na primeria rodada.

Linguagem de cartolas

Pelé e Havelange juntos?

Pelé e Havelange juntos?

João Havelange presidiu a Fifa – entidade máxima do futebol – por 24 anos e usou da experiência comprovada com título de dirigente do século (recebido em 1999) para conceder uma dura declaração à coluna Gente Boa, no Globo de hoje. Desconsiderando a capacidade de seu ex-genro, Ricardo Teixeira, que preside o comitê gestor do Mundial de Futebol de 2014, disparou: “O dinheiro acabou. Todos os que se apresentaram como construtores para fazer estádios no Brasil para a Copa, já tiraram o time de campo. Não haverá estádios novos, mas apenas reformados. O BNDES não vai liberar verba para a construção”. O ex-prefeito do Rio, César Maia, replicou, em seu blog/mailing e o bochicho só vai crescendo.

É a bomba do dia, no mercado do esporte, para além das negociações do período de janela aberta do futebol europeu. Havelange mostra uma dura realidade e, se verdadeira, veremos, nos próximos dias, um Teixeira cabisbaixo nas ante-salas dos gabinetes de Brasília, com pires na mão e com o orgulho ferido.

Ricardo Teixeira tem dado de ombros pra grande parte dos políticos, até então, dizendo que a Copa não verá dinheiro público, na construção dos estádios (aqui, no UOL, mais sobre a questão de gastos públicos). Muitos governadores e prefeitos já desmentiram e prevêem os gastos no orçamento dos próximos anos, chorando a sangria inesperada.

E justo Havelange, pra dizer tal bomba!

 

Como se sabe, o carioca João Havelange é o membro decano da COI – com mais tempo no quadro de votante. Tem um histórico que, seguramente, moldou a anedótica, porém inatingível esfera da cartolagem. Um golpe desse, na candidatura do Rio para os Jogos de 2016, e tudo estaria perdido para os brasileiros, na eleição de 2 de outubro.

Mas o dirigente do século (ao lado de Juan Antonio Saramanch e Pierre de Coubertin), que completará 100 anos exatamente em 2016, carrega a bandeira do Rio como um último ato e, por enquanto, é das forças motoras da campanha brasileira, talvez a mais influente, num universo onde a linguagem da cartolagem só é entendida pelos seus pares.

O Michel Castellar, do Lance!, revelou (aqui) que Havelange escreveu e está remetendo cerca de 100 cartas para cada um dos membros do COI, com mensagens personalizadas e pedidos que denotam as relações pessoais do ex-dirigente. O cartola mor tem cobrado os favores concedidos no período em que mandou no futebol e enriqueceu muita gente.

Da lista de Havelange, impossível de ser mensurável, se conhece algumas afinidades, como na sua proximidade com o presidente da FIFA, Joseph Blatter, e com o ex-presidente do COI, Juan Antonio Samaranch (estendida ao filho desse espanhol, votante, em caso de derrota de Madri, nos primeiros “turnos” da votação de Copenhague).

Havelange elegeu Blatter, contra tudo e todos, em 1998. Deixou a Presidência da FIFA, tendo criado um complexo de entretenimento que não valia nada, quando de sua primeira eleição, em 1974. O esporte era deficitário e passou a movimentar cerca de 250 bilhões de dólares por ano, na data de sua saída. Foi uma história de sucesso, para além das verdades dos detratores.

O sueco Lennart Johansson, então presidente da Uefa, era favoritíssimo ao cargo máximo do futebol, no fim dos 90. Tanto que Havelange teria desistido de concorrer a mais um pleito, com medo da derrota. Mas, contra essa suposição, o brasileiro foi ao ataque e fez Blatter seu sucessor. E o fez sozinho praticamente sozinho.

Veja bem: com votação entre cartolas do mundo inteiro, ganhou a confiança dos africanos, arrematou todos os votos das Américas e até da blindada zona européia, sob controle de Johansson. A eleição era fechada, mas reportagens da época apuraram as artimanhas de Havelange, que conseguiu ainda uma aproximação com Michel Platini, que seria uma espécie de embaixador da campanha de Blatter.

O ex-jogadorzaço francês era uma resposta ao cabo eleitoral de Johansson, um senhor chamado Pelé, no período de maior confronto entre Havelange e o maior jogador brasileiro de todos os tempos. O cartola venceu e o rei do futebol ainda amargou sua maior saia justa, durante o périplo da escolha do presidente da FIFA. Chamou Platini, na ocasião, de perdedor e recebeu uma resposta tão polida, quanto esmagadora: “É uma honra saber que o maior jogador da história conhece meu nome”, respondeu o francês, com elegância.

Na escolha de Blatter, uma sequência de escândalos, como se vê no livro “Cartão Vermelho”, de Andrew Jennings. Esse jornalista inglês conta que até hoje o brasileiro carrega uma carta de crédito ilimitado, patrocinado pela FIFA, muito por conta dos serviços prestados não à entidade, mas aos homens que hoje a dirige. Há suspeitas de toda ordem que inclui a participação do marketing. Pois a montanha de dinheiro erguida na gestão do brasileiro, foi repartida ali mesmo, no entendimento de Jennings. Havelange, nesse livro, se perpetuou com a ajuda de graúdos da indústria do esporte, como o ex-dono da Adidas, Horst Dassler.

O alemão morreu em 1987, mas teria preparado o terreno para o mais longo e promíscuo relacionamento de mercado entre cartolas e empresários. Para além disso, essa história de marketing esportivo teria nascido aqui, como conta o livro “Invasão de Campo” (Ed. Zahar, 362 págs.), de Barbara Smit, que traça a história dos irmãos criadores das marcas Adidas e Puma, rivais eternos. Horst Dassler é filho do criador da primeira, Adolph (o Adi que deu origem ao conhecido nome), que elevou a marca das três listrinhas ao patamar que conhecemos hoje.

Pois Horst Dassler é o símbolo maior da relação desses cartolas todos com o “movimento olímpico” que não conhecemos. Ele foi criador da ISL, uma das principais agências de marketing esportivo do mundo, que faliu em 2002, muito depois da morte de seu empreendedor, envolvida numa rede de escândalos com apuração policial que ainda não terminou.

Horst Dassler, como se sabe, elegeu Havelange em 74, com a promessa de injeção de recursos na FIFA, e também moldou a nova ordem do COI, tendo eleito Juan Samaranch, em 1980. O dono da Adidas e Havelange, se sabe hoje, impulsionaram o COI que vemos com a força de principado, a partir da eleição do espanhol.

Daí, constatar, sem surpresa, as “amizades dentro do COI” declaradas pelo dirigente do século, pelo ex-sogro de Ricardo Teixeira (dizem que ficou mágoa, mas Havelange poupa o presidente da CBF de críticas), pelo decano que pode não votar, no próximo 2 de outubro – caso o Rio chegue à disputa final pela sede de 2016.

Os bastidores de uma eleição como essa – secreta e repleta de gente de culturas tão distintas, quase todas movidas por dinheiro e poder, não serão completamente dissecados pela mídia, mesmo com a aproximação do pleito. Podem surgir em polêmicos livros não-autorizados, nas próximas décadas, sem a voz oficial que prefere o silêncio.

Havelange tem feito tudo dentro dessa regra do silêncio, falando a língua da cartolagem que ele conhece tão bem e (incrível!), num movimento contínuo ao lado de gente impensável, em décadas anteriores, como seu maior desafeto, o rei Pelé.

Cada eleição é mesmo diferente.

Direitos (pressão) de TV

A TV é a ponta de lança do COI, quando o assunto é negócio e tem sido uma das maiores fontes de renda da entidade, se não for a maior, observado os padrões de arrecadação das últimas três décadas. Michael Payne, que já atuou no marketing dessa organização, no momento de sua maior expansão, na virada dos anos 80 para os 90, é autor de “A Virada Olímpica” (Casa da Palavra, R$ 53,90, na FNAC) e fala da reviravolta do movimento olímpico com uma paixão indescritível. Primeiro, porque ecoa o sucesso de seu trabalho. Depois, porque leva ao conhecimento do leitor toda a sorte de gestão que resultou na imponência do COI e que tem garantido disputas acirradas de países que se pretendem sedes olímpicas. E os direitos de transmissão, segundo ele, é o viés dessa conquista.

Michael Payne endeusa o espanhol Juan Samaranch, presidente da entidade entre 1980 e 2001, e também joga confetes pra cima de Dick Pound, que presidia a comissão de Marketing e de Direitos de TV, justo o canadense (ainda membro do COI) que, vez ou outra, tem vaticinado a vitória de Chicago, para ser sede de 2016. Payne fala de como os direitos de transmissão dos Jogos saltaram para negociações de dez dígitos, para além dos dois bilhões de dólares, até. Mostra como as negociações são levadas por poucos do COI, que batem martelo sobre condições subjetivas para as escolhas das propostas.

Tanto é assim que a Rede Globo se viu surpreendida pelo contrato da Record para os direitos de transmissão de dois Jogos – de 2010 e 2012. E foi assim, nos idos dos anos 80 e 90, na extraordinária briga entre as majors americanas NBC e ABC, retratada pelo livro de Payne. Ele circulava nos bastidores e viu muitos executivos de emissoras enlouquecerem.

As propostas eram impensáveis e catapultou o marketing olímpico – embora seja difícil dizer, nesse caso, qual terá vindo antes: marketing ou demanda. Com os pagamentos de direitos nas alturas, não foi só uma vez que tais emissoras fecharam no vermelho, ainda que tenham sido prejuízos calculados, com a velha história de agregar valor. Nessa corrida, a NBC tem enfrentado a ABC, desde o episódio para se definir a transmissão dos Jogos de Seul, de 88, que custaram mais de 300 milhões à segunda.

Payne conta como, de repente, os Jogos passaram a valer bilhões para a TV e de como as transmissões consolidaram-se como chave do negócio e propulsão do movimento olímpico. A TV é parte importante do show dos Jogos e o COI, se sabe pelo livro desse marqueteiro, passou por períodos de temeridade, com os aumentos excessivos dos direitos. A entidade começou a cobrar outros compromissos das TVs, temendo quebra de contrato, por falta de capital, o que elevou a subjetividade de todo o processo de seleção. As redes passaram a participar das mudanças do organismo e supõe-se, são mesmo influentes na escolha das sedes olímpicas.

Payne também conta como foram as negociações para os Jogos de 2010 e 2012 e como o Usoc – Comitê Olímpico dos Estados Unidos – tentou atrapalhar o acordo com a NBC. Está no livro: “Depois de mais alguns ataques teatrais de raiva, os representantes do Usoc finalmente foram convencidos. Á uma e meia da madrugada, as lideranças do COI e da NBC reuniram-se novamente para uma teleconferência global, para o anúncio de que a NBC conquistara os direitos de transmissão para os Estados Unidos dos Jogos Olímpicos de 2010 e 2012 – atingindo uma série de 24 anos ininterruptos de conquista dos direitos dos Jogos de Verão”.

Payne, ainda marqueteiro do COI, dos principais participante dessas negociações, relata o momento chave que pode nos remeter as complicações atuais: “A estratégia apresentada a [Jacques] Rogge um ano antes agora produzia seus frutos. Não estávamos satisfeitos apenas por causa do imenso valor monetário envolvido. Havíamos conseguido persuadir a NBC entrar de cabeça na estratégia de marca do COI – criando uma parceria única e nova para o futuro e um outro patamar de benefícios. Sabíamos que havíamos estabelecido um novo referencial de excelência para a indústria”.

“Um tema recorrente, nas últimas décadas tem sido as tentativas constantes do Usoc de reclamar uma fatia cada vez maior dos honorários de direitos de transmissão para os Estados Unidos [que eram de 12,5%, no registro do livro]. Desde os Jogos de Inverno de 1980 em Lake Placid, o Usoc argumentava que deveria ter direito a uma fatia direta dos honorários norte-americanos, primeiro tentando persuadir o COI da legitimidade de sua reivindicação e, sempre que a tentativa falhava, esforçando-se para persuadir o Congresso norte-americano a considerar uma legislação especial para assumir o controle dos direitos de transmissão no lugar do COI.”

Os americanos sempre pagaram mais pelos jogos. No início da gestão de Samaranch, de tudo que se arrecadava com as transmissões, 85% saíam dos cofres das TVs dos EUA (correspondente a 80% da receita total). Agora, essa conta já é de 50% para Jogos de Verão e de 30% de toda receita do COI.

Enfim, tento, aqui, traçar os bastidores das negociações de contratos de TV, no COI, mas só ficará claro a importância do momento, quando lido o livro de Payne. Só de se constatar que o Usoc sempre usou tática de guerrilha contra a matriz já valeria a leitura. Sabemos, definitivamente, que a intenção de se implantar uma TV por assinatura, em confronto direto com a NBC, altera sim o curso da história.

Payne, em seu livro, cita todos os nomes que estão na mesa, neste instante:

Dick Pound que, durante a gestão de Samaranch, ficou à frente das decisões sobre os direitos de transmissão, é um defensor de Chicago. Ele tem dito que a voracidade do Usoc até é sadia. “Isso é mais exposição para o movimento olímpico. Olhando de forma prática, isso, provavelmente, destacará o valor dos direitos” (leia mais aqui, em inglês). Pound já tentou ser presidente do COI, mas perdeu a eleição de 2001 para Jacques Rogge. Sua voz tem destoado daquela do Comitê Executivo e, ao lado do Usoc, parece querer escancarar a oposição.

O atual coordenador da comissão de TV, Richard Carrión, portoriquenho, não fala a mesma língua que o seu predecessor. Foi Carrión que negociou o atual contrato da NBC e tem dado declarações pesadas contra o Usoc (como as que estão no material do The New York Times, aqui).

Dick Ebersol, dos principais executivos da NBC, é personagem do livro de Payne. Ele está a frente das negociações de mais de 20 anos dessa rede com o COI. Antes disso, foi criador do Saturday Night Live, na mesma rede. Essa figura-chave tem partido para o chingamento, no atrito com o Usoc, inconformado. Foi ele que disse (também no NYT) que Chicago perderá com essa atitude do Usoc.

Enquanto isso, no Brasil, Globo e Record se preparam para concorrer, no próximo mês, ao direto de transmitir os Jogos de 2016, com Rio na disputa. As olimpíadas de 2010 e 2012 são da Record, por 60 milhões de doláres e o Lauro Jardim, da Veja (aqui, com muitos detalhes), aposta que o próximo arremate pode sair por 100 milhões. Parece-me no curso dos anseios dos dirigentes do COI. E o Rio deslisa melhor.

Eminência parda do lado do Rio

Acredito que o presidente Lula nunca tenha concedido uma entrevista exclusiva a uma TV especializada em esporte, no exterior. Pois essa barreira será quebrada, amanhã, em momento chave (e sabe-se lá a que custo!?), com a presença do brasileiro, no canal Eurosport, para falar do Rio de Janeiro e suas pretensões para 2016.

O canal (oferecido até na China) divulgou release confirmando a participação de Lula, neste dia 1º, às 21h (hora local), com uma certa comemoração, dizendo que o “protagonista” do especial, “‘é o político mais popular do mundo’, segundo palavras de Barack Obama”.

“Lula é o 6º político internacional entrevistado pelo ‘Olympic Magazine’ [o nome do programa] nos últimos anos. Outras grandes personalidades que já passaram pelo programa são: Nelson Mandela (ex-presidente da África do Sul); Carlos Menem (ex-presidente da Argentina); Boutros-Boutros Ghali, ex secretário-geral da ONU; Ban Ki-Moon, atual secretáro-geral da ONU e o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore.”

Quem cantou a pedra primeiro foi o Estadão do último dia 21, em reportagem já comentada neste blog. O diário paulista revelara que Jean Marie Weber, “uma das eminências pardas do esporte mundial, que agora percorre os corredores do Comitê Olímpico Internacional”, servia de intermediário em uma negociação entre a candidatura do Rio 2016 e a Eurosport para publicidade.

“Membros do Comitê Olímpico Brasileiro confirmaram que foram procurados por Weber”, mas asseguravam, na ocasião, que ele apenas queria vender espaço publicitário para a candidatura do Rio aos Jogos de 2016 no canal Eurosport. O COB disse ao correspondente do Estado que avaliava a eficiência de ter publicidade na Eurosport e deu garantia de não ter dado resposta a Weber que, na semana das apresentações, na Suíça, dedicou seu tempo a falar com brasileiros.

“A presença de Weber nos corredores do COI causou surpresa e saia-justa. Ele era um dos executivos da ISL, parceira de marketing de longa data da Fifa que passou a ser alvo de investigação na Suíça por corrupção. Segundo o procurador do Tribunal de Zug, a distribuição de propina pela ISL chegou a mais de US$ 110 milhões. Weber e outros seis cartolas foram indiciados por fraude.”

“Weber, porém, já ocupou outras funções. Foi o braço direito do presidente da Adidas, Horst Dassler, durante os anos 70 e 80, garantindo votos a Havelange. Depois da morte de Dassler, em 87, Weber foi responsável na Adidas pelo relacionamento com a Fifa e com o COI.”

“O problema é que, em 2001, às vésperas da Copa na Ásia e das eleições na Fifa, a ISL faliu e deixou dívida de US$ 300 milhões. Investigadores suíços passaram a examinar por quatro anos o que foi o segundo maior caso de falência na história do país. Na pequena cidade de Zug, o procurador Thomas Hildbrand denunciou esquema de corrupção. Sua suspeita era de que a empresa teria feito pagamentos paralelos para garantir contratos, como o da Fifa.”

“Em março de 2008, sete anos depois, a Corte de Zug acusou formalmente a ISL de pagar propinas por meio de uma fundação em Liechtenstein. Seis executivos teriam distribuído US$ 18 milhões a pessoas envolvidas em negociações de direitos de transmissão e podem pegar até quatro anos de prisão, se condenados. Os advogados de defesa alegaram que a falência ocorreu diante da decisão da Fifa de se retirar de um projeto.”

“O procurador não indiciou nenhum funcionário da Fifa em seu processo. Mas, segundo a edição de 29 de fevereiro de 2008 da revista alemã Der Spiegel, o tribunal indicou que o presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol, o paraguaio Nicolás Leoz, teria sido um dos cartolas que receberam propina.”

“A revista destaca que muito dinheiro foi distribuído entre empresas com base em paraísos fiscais. Pessoas físicas também foram favorecidas. Para os investigadores, Weber sabe quem seriam os beneficiários. No momento da falência, ele não tinha contrato escrito, mas recebia cerca de US$ 870 mil/ano.”

“Em seu depoimento à Justiça suíça, Weber optou pelo silêncio. Para muitos, ele é ‘o homem com a lista negra’. A Spiegel garante que, na Fifa, o temor é que Weber revele quem recebeu dinheiro.”

Digitei quase toda a reportagem (por não estar disponível no portal do Estadão), percebendo a riqueza de detalhes e o quanto cada informação dada pelo diário são importantes. Weber é uma espécie de Agaciel Maia (o ex-diretor-geral do Senado) da Fifa e do COI (por que não, já que circula tão livre por toda a Suíça?). Uma verdeira eminência parda, como disse o Estadão e, como se percebe, está mesmo do lado do Rio.

Ato secreto de Daley

O No Games intensifica campanha contra Chicago 2016, em meio às ameaças contra o contribuinte (taxpayers) - diz a charge: "Não se preocupe, nós encontraremos um modo de cobrir as despesas".

O No Games intensifica campanha contra Chicago 2016, em meio às ameaças contra o contribuinte (taxpayers) - diz a charge: "Não se preocupe, nós encontraremos um modo de cobrir as despesas".

Richard Michael Daley já foi escolhido pela revista Time, há quatro anos, como um dos cinco melhores prefeitos entre todas as metrópoles dos Estados Unidos (aqui, a reportagem da Time). Continua no poder, em Chicago, e, neste ano, o democrata completará 20 anos à frente da Prefeitura da cidade candidata a ser sede dos Jogos de 2016.  Somado aos mandatos do seu pai (Richard Joseph Daley), também como o prefeito de Chicago, serão, em 2011, 43 anos de controle da máquina pela mesma família, na cidade de Al Capone. O Daley filho venceu sua última eleição com 70% dos votos e acredita que tem nas mãos toda a sorte para mudar as regras de arrecadação, sem a chiadeira do contribuinte.

É isso que está tentando fazer, com a anuência dada na última semana, de que a prefeitura garantiria 500 milhões de dólares para custear os inevitáveis rombos de orçamento na construção do parque olímpico para 2016. Chicago tem esse nó muito bem dado, um dos principais fatores de aversão a sua candidatura, com a falta de garantias do poder público, em meio a essa crise que passa a economia norte-americana. Até então, todo o orçamento da cidade para os Jogos era sustentado pela iniciativa privada.

Na última semana, durante às apresentações técnicas para os membros do COI, o prefeito Daley garantiu os aportes, em meio a uma metralhada sequência de perguntas sobre o orçamento de Chicago.

Nesta semana, membros do Comitê de Chicago correram para o Conselho da Cidade (a Câmara de Vereadores deles) para desfazer esse mal entendido e pedir apoio, no momento que se cria um levante entre a população que só não quer ouvir que haverá mais impostos.

O que disse hoje, o Chicago Tribune (aqui):

“Patrick Ryan [dirigente máximo do Comitê de Chicago] tentava, ontem, acalmar uma tempestade política causada na semana passada, quando Daley disse ao Comitê Olímpico Internacional, em Suíça, que estava pronto para assinar ‘tal como estava’ o contrato padrão de uma cidade-anfitriã. Esse acordo dá a Chicago a responsabilidade financeira total para os Jogos, que fariam os contribuintes responsáveis pelas despesas excedentes do evento, de cerca de 2 bilhões de dólares, em garantias públicas e no seguro privado.”

Ryan disse hoje, também de acordo com o Chicago Tribune, que ele soube, semanas atrás, que o COI insistiria para que houvesse garantias totais de orçamento, como as concedidas pelas outras candidatas.

Para alguns vereadores, o prefeito Daley tem assinado alguns cheques em branco, como os atos secretos do Senado brasileiro, e isso apavora o contribuinte norte-americano, algo impessável no Brasil. Vereadores estão cobrando transparência e membros do Chigado 2016 têm se reunido com essas autoridades numa operação panos-quentes que tomou o noticiário olímpico, na semana. O GamesBids.com ouviu vários vereadores e revelou um estado de apreensão.

O prefeito e o Conselho da Cidade já garantiram os primeiros 500 milhões de dólares, mas o COI entende que o comprometimento financeiro de Chicago deve ser maior. Pode ser o fiel da balança, em 2 de outubro, graças a preocupação corrente de que os orçamentos dos Jogos, por mais londrinos que sejam, estão fora de controle. A família Daley tem seu maior teste de fogo, desde que Richard Daley (o Daley pai) enfrentou Martin Luther King, nos anos 60.