Richard Pound, ou Dick Pound, canadense, membro do COI desde 78, figura proeminente na transformação dos Jogos, nas duas décadas de gestão de Juan Antonio Samaranch, apesar disso, tendo sido preterido pelo seu ex-chefe, na sucessão de 2001, quando Jacques Rogge assumiu a entidade, Dick fala demais.
Na edição de 2006, Michael Payne, diretor de marketing do COI, escreveu em seu livro, “A Virada Olímpica” (Casa da Palavra):
“A revitalização dos Jogos Olímpicos foi um esforço de equipe. Ela envolveu muitos executivos e milhares de voluntários. Os dois personagens mais influentes foram Juan Antonio Samaranch e Dick Pound. Saramanch foi presidente do COI de 1980 a 2001, proporcionando inspiração e visão capazes de levar o Movimento Olímpico até sua posição atual. Pound foi membro canadense do COI [sic] e como vice-presidente do COI e presidente da Comissão de Marketing e da Comissão de Negociações para a TV, ofereceu o rumo político e os conselhos jurídicos que orientaram os planos comerciais. Devemos recordar que Samaranch e Pound, como todos os membros do COI, também eram voluntários não-assalariados, dedicados à causa olímpica.”
Era Pound que se trancava com os medalhões da TV mundial para negociar os direitos de transmissão, por duas décadas. Foi ele que viu essas cifras ultrapassarem o bilhão de dólares e tirou o vermelho das contas do COI. O canadense trabalhou em conjunto com as redes norte-americana (notadamente, a NBC, após ABC ter colaborado com Los Angeles-84), essencialmente, para promover essas mudanças e parece dever muito a esse pessoal da televisão. Em 93, quando da escolha da sede da rede norte-americana que iria transmitir Atlanta-96, Pound chefiou o processo mais emblemático desse tipo de seleção, que se confirmou a mais rentável, por anos.
A TV americana manda. Na ocasião, Dick Ebersol, da NBC, provou ser o melhor jogador de todos os tempos, nessa seara do marketing olímpico. O executivo traçou os recordes de audiência de Atlanta, mas teve que atuar nos bastidores para encobrir as falhas que deram a péssima fama aos últimos Jogos de Verão dos EUA.
Veja esse trecho sensacional do livro de Payne:
“Atlanta foi o evento mais assistido na história das transmissões de TV americanas, com Ebersol mantendo um controle cerrado sobre a produção. Muitos norte-americanos questionaram, depois, porque o resto do mundo havia sido tão negativo em seus comentários em relação aos Jogos Olímpicos de Atlanta, já que tinham assistido a um evento fabuloso pela NBC. Eles assistiram.”
“Contudo, Ebersol estava tão decepcionado com o que a cidade de Atlanta fizera, destruindo a imagem e a magia dos Jogos Olímicos ao permitir que o centro da cidade se transformasse em uma frenética agitação comercial, que minimizou a exposição da cidade. Segundo alguns, ele disse a seus produtores e câmeras que a primeira pessoa que produzisse um segmento qualquer mostrando o centro de Atlanta seria despedida no ato.”
A novela criada por Ebersol para o pé machucado da ginasta norte-americana que saltou no cavalo e ganhou o ouro, em Atlanta, também é um divisor de águas nas transmissões e no emblema olímpico. O drama tomou conta das transmissões, em cada evento esportivo, desde então, numa embalagem hollywoodiana que ninguém no mundo consegue copiar.
Ainda que salte de Pound para falar de Ebersol, que ainda está a frente das transmissões da NBC para 2010 e 2012, o propósito, aqui, é revelar a promiscuidade do canadense com o time da TV dos EUA e quanto o membro do COI tem uma visão direcionada de marketing esportivo. Pois, Pound sempre volta a tona, para defender Chicago e os norte-americanos.
Então, fica a questão: o canadense especula ou tem mesmo o ponto de vista mais translúcido dos membros que falam, no COI?
Pound tem sido a salvação das agências de notícia, nas especulações sobre o processo de escolha da sede de 2016. A agência AP, despachou ontem, com reprodução da Abril.com, mais uma entrevista com o canadense. Ele vê um prejuízo, na ausência de Obama, para a candidatura de Chicago. “Ele é uma figura transformacional no mundo hoje. Se você tem um líder popular e não o usar, não está maximizando suas chances. Se ele puder ser persuadido a ir, faria uma diferença enorme”, apontou.
Pound, que presidiu a Agência Mundial de Antidopagem (Wada, em inglês) até o ano passado, gosta de se manter em evidência, talvez para sustentar uma missão pessoal próxima de ser atingida: a de chegar à Presidência do COI.
Reeleito, em Copenhague, Jacques Rogge, só poderá continuar sendo presidente do COI até 2013, abrindo as portas para um novo líder. O canadense já tentou essa vaga, em 2001, quando ganhou um desafeto, na Executiva do comitê. Viu armação do então presidente Samaranch para eleger o belga.
Pound perdeu feio, na ocasião, ficando em terceiro, atrás de Rogge (59 votos), do sul-coreano Un-Yong (23), tendo atingido os 22 votos, na segunda rodada, a frente do húngaro Pál Schmitt (seis). A norte-americana Anita Defrantz foi eliminada na primeria rodada.