Arquivo do mês: julho 2009

Passo firme

Pelé entre autoridades nigerianas (Foto: Vanguardngr.com)

Pelé entre autoridades nigerianas (Foto: Vanguardngr.com)

Vou de Pelé, para abrir meu post de número 100.

E pode ser até comemorativo porque, tecnicamente, o Rio “deu um passo firme hoje”, como reportou o Gamesbids.com (aqui, em inglês). As notícias, de resto, dão conta de uma apresentação tecnicamente e emocionalmente correta, durante a Assembléia da Associação dos Comitês Nacionais Africanos, realizados ontem e hoje, em Abuja, capital da Nigéria.

O encontro da equipe brasileira com as crianças de ontem, na Embaixada do Brasil, virou vídeo de fundo, quando da fala de Pelé, que assinou as bolas levadas pelo Co-Rio para os pequenos nigerianos.

Pelé falou de futebol, por muito tempo, mas quis o tempo todo levantar a auto-estima africana, dizendo de como o continente pode até chegar a final de uma Copa. Era a arma emocional que faltava para encorpar o discurso de uma América do Sul relegada pelo Movimento Olímpico. Do apelo para a afinidade, porque a África também não está no mapa dos Jogos.

Na África, a palavra de ordem do Co-Rio e da proclamada “vez dos pobres”, ecoada pelo presidente Lula, simultaneamente, na França (aqui, no despacho da AFP), só poderiam ganhar a simpatia.

É, ao menos, o que se espera, porque se falou muito pouco até agora da reação da platéia de cerca de 200 representantes de comitês olímpicos africanos. Também não se sabe qual o número de votantes presentes. A África tem 16 membros no COI.

Sabe-se que houve descontração, com as falas de Pelé, e o Co-Rio, em seu site, assinala que foi uma apresentação “com louvor” (aqui tem muito do que foi dito pelos brasileiros).

O fala bem ensaiada do presidente do Co-Rio, Carlos Nuzman, abrangeu a proximidade entre africanos e brasileiros e como deve ser a ação mútua.

“Temos uma herança e costumes em comum que se refletem na cultura, na música, na culinária e, claro, no esporte. Temos o sonho de levar os Jogos Olímpicos pela primeira vez para a América do Sul, abrindo as portas para outro novo continente. A chama olímpica é mais brilhante quando une pessoas e marca novos capítulos na história. Neste século XXI, o Movimento Olímpico deve abraçar novos esportes, novas tecnologias e novas pessoas”, disse Carlos Arthur Nuzman, que discursou em inglês e francês.

O dia depois de amanhã

As candidatas a sede dos Jogos de 2016 fazem suas promessas aos votantes da África, hoje, em assembleia dos comitês olímpicos, na Nigéria, e fica aquela sensação de “O Dia Depois de Amanhã”, o filme em que os Estados Unidos pedem asilo aos mexicanos, após uma catástrofe ambiental. Pois as três cidades do mundo desenvolvido, fortalezas que deportam sem dó, estão oferecendo mundos aos africanos.

Presidente Obama apareceu em vídeo, por dois minutos, para dizer que “espera muito ter a oportunidade de estender as mãos da amizade olímpica a todos vocês, na África”. (Games Bids despachou primeiro, aqui.)

Os japoneses prometaram vistos de entrada para todos os comitês olímpicos. O time de Tóquio também garantiu todo auxílio de logística para a construção das casas dos comitês que participarão dos Jogos 2016. “Nós ofereceremos o máximo possível de suporte para toda a escala de serviços de apoio”, garantiu Tsunekazu Takeda, presidente do comitê. (Aqui, no GB.)

A Espanha também abrirá suas fronteiras e promete ceder suas instalações olímpicas para o treinamento dos africanos, como o Centro de Alta Performance. Mercedes Coghen, do comitê de Madri, pregou “respeito, tolerância e entendimento”(aqui, no GB). Também tenho que dizer que a canditura espanhola levou um membro da família real da Espanha, Dona Pilar de Borbon, aquela realeza que mete tanto medo no presidente Lula (não soube das últimas declarações do presidente? Leia aqui).

Estranhamente, até as 16h (horário de Brasília), o staff do Games Bids não havia despachado nota sobre a apresentação do Brasil, apesar de não ter sido a última cidade a se apresentar.

Frases de efeito de Lula

Em Paris, o presidente Lula falou em coletiva, hoje, pela manhã,com despachos para todo o mundo de AFP, EFE e France Press. De novidade, veio a declaração de que o maior adversário do Rio, na eleição de outubro, é Madri, no entendimento do presidente, muito por conta da força da família real, que exerceria poder até sobre os votantes da América Latina.

A reportagem da AFP você lê aqui. A EFE também cobriu a coletiva (aqui, por Globo.com).

Mas pincelei as principais frase de efeito:

“Acho que Madri é a maior dificuldade entre nossos adversários, porque a Família Real espanhola pode usar de seu encanto em vários países latino-americanos.”

“Não se pode falar mal dos seus advesários e há três rodadas de votação para os Jogos. O mais importante é conseguir superar a primeira fase.”

“Não podemos deixar que os Jogos Olímpicos sejam monopólio dos países ricos.”

“Há 41 anos do (jogos do) México, agora é hora de outro país latino-americano organizá-los. Espero que os membros do COI votem com um espírito aberto e em alguém que nunca teve um evento tão importante antes.”

Em duas frentes

A campanha brasileira pelos Jogos de 2016 ganha corpo amanhã, em duas frentes, do outro lado do Atlântico. Representantes do Co-Rio se apresentam por 15 minutos, na Assembléia Geral do Conselho dos Comitês Olímpicos da África, com participação de Pelé, que já está em Abuja, capital da Nigéria, local do evento.

Na França, o presidente Lula abre espaço na sua agenda para receber, na manhã desta terça-feira, josrnalistas estrangeiros para falar especificamente da candidatura do Rio (leia aqui o que despachou, a AFP).

As poucas novidades do dias estão disponíveis apenas no release distribuído pelo Co-Rio, dando conta das atividades na Embaixada do Brasil na Nigéria, onde Pelé recebeu um grupo de crianças nigerianas, com distribuição de afagos (o release, aqui).

Mãe África

O Chicago Tribune, ontem, tentou mostrar os parâmetro necessários para se vencer na África, com a força de 16 votos no contingente do COI, e como o continente é importante, ao menos, no primeiro round da disputa de 2 outubro, quando será definida a sede dos Jogos de 2016.

Chicago sabe disso e já está certo que haverá um vídeo com a aparição do presidente Obama (como está dito aqui, em inglês). A cidade também irá focar na sua face multicultural, principalmente apontando para os negros de sucesso.

Um embaixador da ONU, Andrew Young, lembra que foi a África que deu a vitória para Atlanta, na fatídica disputa pelos jogos de 96, quando a Grécia queria comemorar o centenário da Olimpíada e foi desbancada, na maior demonstração de descompromisso histórico do COI.

No primeiro round da eleição do COI, uma espécie de primeiro turno, a cidade com menos votos não avança na disputa, se não houver uma candidata escolhida já na votação inicial com mais de 50% dos votos. A África, por não estar na disputa, virou continente chave na abertura da eleição. Quem conquistar os africanos, sai na frente, porque há uma tendência dos asiáticos optarem por Tóquio (como prevê a Folha, aqui) e da Europa e América dividirem os votos entre Rio e Chicago, com Madri a espera de um tropeço das favoritas.

O Chicago Tribune vê o Rio como principal rival de Chicago, na disputa por esses votos, muito baseado na proximidade do presidente Lula que, inclusive, esteve na Líbia, na última semana, em encontro de líderes do continente. Esqueceram do fator Pelé, tão importante quanto a tal aproximação de Lula, que chegou a pedir votos em seu discurso direcionado aos chefes de estado africanos.

Talvez, juntando Lula e Pelé, seria a equação ideal para igualar os efeitos da aparição de Obama, não só em Abuja, capital da Nigéria, mas em Copenhague, local da votação de outubro. Mas não há dúvidas que esse é o momento chave para a disputa e todas as candidatas sabem reconhecer o poder africano.

Pospost: A África já se sente importante, diante dos fatos. Reivindicará Deus, na presença do presidente do COI, Jacques Rogge. O jornal nigeriano This Day, revela nesta segunda-feira (aqui, em inglês), data do início da reunião da Associação dos Comitês Africanos, toda pauta dos cartolas, o que inclui a implantação de dois organismos de controle dos esportes, no continente. Atualmente, essa gestão cabe à Associação dos Comitês Olímpicos Nacionais (Anoca) e eles querem a implantanção de algo nos moldes do Paso (a Organização dos Esportes Pan-Americanos). Querem ser sedes de eventos esportivos importantes e a própria Nigéria tem mostrado que pode fazer o serviço, já garantindo a Copa de sub-17. Enfim, eles começam a se sentir importantes e, em curto espaço de tempo, podem almejar uma Olímpiada. Daí, o melhor caminho seria mesmo optar de desbravadora candidatura do Rio.

O fator emocional

No dia que o presidente do Conselho Olímpico da Ásia e membro do COI, Sheikh Ahmad Al-Fahd, disse que “deseja sucesso à cidade asiática Tóquio na eleição de outubro, em Copenhague” (leia mais aqui, em inglês), o Rio, paralelamente, vai ganhando a simpatia da mídia internacional.

Hoje, foi a vez de um blogueiro do portal de esporte da Austrália, Roar. David Wiseman abre um post (aqui) dizendo que “o COI deve dar os Jogos de 2016 ao Rio”.

Suas apostas estão baseadas no peso emocional da campanha no uso do fator “primeiros jogos na América do Sul”. Para Wiseman, não se pode esperar para depois, por essa chance dos sul-americanos, porque pode não haver outra oportunidade.

Ele tem uma tese interessante: a de que o número de candidatas têm diminuído, a cada novo ciclo olímpico e que isso tende a se agravar, com a confirmação dos temerários elefantes brancos. Além disso, os cavalos azarões, como Havana, Dublin e Istambul, nem se dão ao trabalho de se candidatar mais, esvasiando a disputa.

Ainda assim, o blogueiro fala de pontos de interrogação enormes, a respeito da eficiência logística do Brasil.

Enquanto Chicago hesita

Rio 2016 começa a mostrar sua força, com o concentimento da mídia internacional. É apenas o início de uma batalha que só terá fim em 2 de outubro próximo, mas as primeiras adesões são de peso, com chancela da americana Sports Illustrated e da britânica BBC.

Durante a apresentação técnica para os membros do COI, em Lausanne, no meio de junho, o editor de esportes da BBC, Mihir Bose, escreveu em seu blog com indisfarçada aposta na liderança brasileira, sobre a corrida pela sede dos Jogos de 2016 (aqui, em inglês). O jornalista aponta as dificuldades de Chicago, principalmente, e tenta antecipar que o Rio não terá ressalvas no relatório preparado pela comissão de avaliação, que até já teria sido concluído. Sobre segurança, então, nada que possa preocupar o COI, ao contrário das preocupações que levam a candidatura de Chicago, principalmente com relação ao comprometimento público.

Ontem, foi a vez de Frank Defort, da SI, mostrando que o “Rio ganha impulso”, no momento que a campanha de “Chicago hesita” (aqui, em inglês).

As boas impressões de Defort foram citadas, hoje, pelo Nelson de Sá, da ótima coluna Toda Mídia, da Folha. Vai, abaixo, na íntegra:

Colunista da revista “Sports Ilustrated”, Frank Deford aborda longamente “Por que o Brasil pode vencer Chicago na disputa pelos Jogos Olímpicos”.

A cidade de Barack Obama é a favorita, diz ele, mas a história das escolhas do Comitê Olímpico Internacional tem casos semelhantes. Relaciona os prós e os contras e encerra dizendo: “Agora tem a moda Bric, B-R-I-C sendo o acrônimo para o quarteto de nações emergentes Brasil, Rússia, Índia e China”, com a perspectiva econômica em seu favor. O Rio com “o vento às costas”.

África espera Pelé

Abuja, capital projetada da Nigéria, receberá, na próxima semana, o que o diário local Daily Independent (aqui, em inglês) chamou de o top das personalidades do esporte mundial, para a 13ª Quadrienal Assembléia Geral da Associação dos Comitês Olímpicos Nacionais da África (Anoc, na sigla em inglês). A imprensa local anuncia a presença do presidente do COI, Jacques Rogge, e de Pelé, “o lendário jogador de futebol brasileiro”, nessa sequência de importância.

O blog do Michel Castellar (aqui) revelou hoje que o ministro dos Esportes, Orlando Silva, também embarcará para a África. O momento é chave para a campanha pela sede de 2016. O diário nigeriano colheu informações de Tony Nezienya, assessora do Comitê Olímpico da Nigéria, que nomeou as tais personalidades do esporte que estarão no grande encontro da Anoc.

Difícil obter a confirmação da presença de Pelé que, pelo visto, também é usado pela estratégia de campanha do Rio, sem divulgação prévia, na tentativa de surpreender os organizadores das cidades adversárias. O rei do futebol participou, com grande sucesso, do encontro da Paso, ou Odepa, entidade que reúne os comitês das Américas, em assembléia realizada no final do ano passado. A estratégia do Co-Rio é a mesma. O “legendário” entra nos momentos mais importantes, como nesse mega-encontro na Nigéria que reunirá grande parte dos eleitores africanos do COI (se não, todos), como o presidente da IAAF, Lamine Diack, e o presidente da Anoca, Lassana Palenfo, dois nomes confirmados pelo cerimonial já citado. Dentre as personalidades, os nigerianos esperam pela participação de Sebastian Coe, que virou cavalheiro do reino, na Inglaterra, após, principalmente, ter levado Londres a ser sede olímpica (sem menosprezar seus feitos como corredor).

Os nigerianos também confirmam a presença do príncipe da Espanha e dos prefeitos do Rio e de Chicago. Aliás, a semana que vem será incendiária, para os proponentes a sede de 2016. O presidente do Co-Rio e outros membros da campanha brasileira estão na Ásia, onde participaram da abertura dos Jogos da Juventude da Ásia, que acontecem em Singapura. Além de acompanhar o início desses Jogos, a delegação do Rio 2016 estará presente na Assembléia Geral do Conselho Olímpico da Ásia, que acontece no dia 3 de julho, também em Cingapura.

Lula sem rodeios: vote no Rio

Presidente Lula e o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, durante cerimônia de abertura da XIII Assembléia da União Africana (Foto: Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Presidente Lula e o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, durante cerimônia de abertura da XIII Assembléia da União Africana (Foto: Foto: Ricardo Stuckert/PR)

O presidente foi explícito, hoje, em discurso na cúpula da União Africana na cidade de Sirte na Líbia, citando Rio 2016.

Lula chegou por volta das 10h30 (horário local) ao centro de convenções do evento onde era aguardado pelo presidente líbio, Muammar Khadafi. A seguir fez quatro pedidos aos lideres presentes. Lula solicitou que os chefes de Estado e de governo que manifestem seu repúdio ao golpe de Estado em Honduras – recebendo aplausos de parte da plateia -, convidou os líderes africanos a visitarem a América do Sul em setembro, propôs um encontro de ministros de Agricultura de toda África no Brasil e… e pediu votos à candidatura brasileira à Olimpíada de 2016, no Rio. (leia mais, sobre a passagem pela África, aqui, por Agência Estado.)

A configuração dos votos africanos parece menos rarefeita as sandices de muitos políticos da região, como o ditador da Líbia. São 16 votos (e não 15, como havia dito em post anterior), a serem disputados no dia 2 de outubro, assim dispostos: com direito a 2 votos para cada um: Egito e Marrocos; com direito a 1 voto cada: África do Sul, Argélia, Camarões, Costa do Marfim, Gâmbia, Guiné, Namíbia, Quênia, Senegal, Tunísia, Uganda e Zâmbia.

Desses 16, oito foram eleitos para o Comitê após 2000, dois são ministros em seus países, dois são militares reformados, dez já foram ou ainda são presidentes de comitês olímpicos, em seus respectivos países. Um dos eleitores que compõem o governo de seu país, é Nawal El Moutawakel, que preside, no COI, a comissão de avaliação das candidatas a 2016, sendo, paralelamente, ministra de Esporte e Juventude, no Marrocos. Entre os votos da África, há conselheiros da ONU, e tem também o vice-presidente da FIFA e o presidente da entidade máxima do Atletismo (a IAAF, presidida pelo senegalês Lamine Diack).

Parece-me que as aparições de Lula na África, no total de 10, na soma de dois mandatos, são relevantes, na medida que o presidente do Brasil ganha em evidência, tão mais importante que os privados encontros nos palacetes líbios.

Mas é certo também, que a vitória do Brasil, na Copa das Confederações, foi o maior lobby possível, num continente que gosta tanto de futebol. (E no post seguinte, essa idéia ficará mais clara.)